No dia 27 de fevereiro de 1973, membros armados do Movimento Indígena Americano ocuparam a reserva de Wounded Knee, no estado de Dakota do Sul. "Eu não estava disposto a viver mais um dia sequer numa sociedade que destrói a cultura e espiritualidade de nosso povo". Assim o iakota-sioux Dennis Banks, cofundador do Movimento Indígena Norte-Americano (AIM), descreveu a situação dos nativos dos Estados Unidos no começo dos anos 1970. Ele e muitos outros não queriam aceitar passivamente a destruição de sua cultura e identidade, o novo ataque de multinacionais à procura de recursos naturais, e a condenação oficial a receptores de lixo tóxico e radiativo.
Wounded Knee é uma pequena localidade na reserva de Pine Ridge, em Dakota do Sul. Os sinais de uma nova consciência indígena já haviam se tornado evidentes em 1972, quando ativistas de todo o país realizaram um protesto diante da sede do Escritório de Assuntos Indígenas, em Washington, reivindicando o respeito a direitos garantidos por antigos acordos.
Tradicionalistas x progressistas
Pine Ridge era a mais pobre reserva de Dakota do Sul, e passava por um conflito tribal entre "tradicionalistas" (de sangue puro) e "progressistas" (mestiços). Os tradicionalistas eram ligados ao AIM. Os progressistas apoiavam o governo, conheciam os meandros da burocracia estatal e embolsavam os recursos destinados à reserva.
A presença do AIM em Pine Ridge serviu de pretexto para o FBI instalar um mestiço alcaguete, o oglala-sioux Richard Wilson, no cargo de presidente do conselho tribal. Segundo o ex-procurador substituto de Dakota do Sul Ramon Roubideaux, o principal motivo da revolta, porém, foi a proibição de reuniões públicas, decretada pelos conselhos tribais e imposta com auxílio da polícia, após a fundação do AIM.
Em janeiro de 1973, quando um homem branco que matara um índio foi acusado apenas de homicídio culposo, e não doloso, ocorreram os primeiros tumultos que, na noite de 27 de fevereiro, desembocaram na ocupação de Wounded Knee.
Reivindicações indígenas
O iakota-sioux Omacha Chanka, que participou da rebelião, conta que os nativos declararam a independência da nação oglala (do famoso chefe Touro Sentado), e reivindicaram a extinção dos conselhos tribais corruptos, a destituição de Richard Wilson e a devolução das montanhas Black Hills.
Armados com espingardas, os índios queriam denunciar o descaso da política indigenista do governo Nixon, mas foram cercados por centenas de agentes do FBI, munidos de armas modernas, helicópteros e carros blindados. O confronto teve saldo de dois índios mortos, 500 presos e feridos de ambos os lados.
No 71º dia do cerco, os índios se entregaram, acreditando na promessa de que o governo atenderia suas reivindicações. As autoridades, porém, nada fizeram, além de reprimir com violência os nativos considerados politicamente suspeitos, o que causou a morte de mais 60 índios até 1975.
O cerco a Wounded Knee foi reconstituído no documentário de 1992 Incident at Oglala, dirigido por Michael Apted, com narração e produção executiva de Robert Redford. Há 175 anos, os índios dos EUA começaram a ser expulsos de suas terras e obrigados a viver em reservas.
DW/CP
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