Proibição de entrada para cidadãos de sete países de maioria muçulmana prejudica os interesses de segurança e a reputação dos EUA. E também divide o país. Trump está brincando com fogo, opina o jornalista Michael Knigge. Donald Trump ganhou pontos na campanha eleitoral com o medo de terrorismo, muçulmanos e imigração. Seu discurso de extreme vetting, ou seja, "averiguação extrema de segurança" de pessoas que querem viajar para os EUA, assim como uma proibição geral para muçulmanos entrarem no país gerou indignação mundo afora. Ao mesmo tempo, porém, com suas reivindicações radicais ele reforçou o discurso de campanha e fortaleceu em sua base eleitoral o apoio entusiasmado a Trump.
Portanto, não é de se espantar que Donald Trump aproveitou a primeira semana no cargo para implementar aquilo que pregou. A anunciada construção do muro na fronteira com o México foi a primeira parte. A proibição de entrada para cidadãos de sete países de maioria muçulmana é a segunda parte.
Mas enquanto o anúncio da construção do muro não deixa de, pelo menos por enquanto, ser um mero anúncio, a proibição de entrada no país, imposta por decreto e preparada de forma superficial, teve efeito imediato: caos global em aeroportos, com passageiros impossibilitados de viajar, companhias aéreas desamparadas, forças de segurança desinformadas e posicionamentos contraditórios dentro do governo dos Estados Unidos.
Bem, alguns simpatizantes benevolentes de Trump admitirão que a implementação inicial não foi ideal, mas que a nova regulamentação melhorará a segurança nacional e por isso é acertada. Só que não é o caso. Porque a proibição geral de entrada para os cidadãos de sete países de maioria muçulmana é arbitrária, inconsistente e viola valores americanos básicos.
Consequentemente é preciso questionar por que os cidadãos de sete países bastante problemáticos em questões políticas e de segurança têm suas entradas aos EUA negadas, mas não aqueles de países que estiveram realmente envolvidos em ataques terroristas no país, como a Arábia Saudita. E por que é uma medida de contraterrorismo deter crianças e idosos em aeroportos?
Fundamentalmente, não há nada que impeça um novo governo de querer rever suas medidas de segurança. Mas os Estados Unidos já possuem um programa intensivo e muito bem elaborado de averiguação de viajantes – especialmente daqueles vindos de Estados problemáticos. E devido a este moroso processo, os EUA acolheram muitos poucos refugiados em comparação internacional. Portanto, a medida repentina sob o pretexto de política de segurança é desnecessária e errada.
Mas não só isso: a proibição de entrada é contraproducente. Porque para muitos muçulmanos mundo afora, ela é a confirmação da mensagem que Trump já havia enviado durante a campanha eleitoral: que eles e sua religião não são bem-vindos nos EUA de Trump. E isso cai como uma luva para os extremistas islâmicos ao redor do mundo.
Não somente muçulmanos estão chocados, mas também apreciadores dos Estados Unidos com país tradicionalmente cosmopolita – dentro e fora do país – estão chocados com a quantidade de danos que o governo Trump causou à reputação do país em apenas uma semana no cargo e como Washington segue ignorando protestos em massa e dividindo uma nação já profundamente polarizada. Há que se temer que este foi apenas o começo. A próxima eleição presidencial ocorre em apenas 1.372 dias.
Michael Knigge é correspondente da DW em Washington
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