Yahya Jammeh partiu em direção à Guiné-Conacri no sábado. Nas suas últimas semanas no poder, o ex-Presidente gambiano terá esvaziado os cofres do Estado, acusou o novo chefe de Estado, Adama Barrow.Após seis semanas de crise política, Yahya Jammeh cedeu o poder ao seu sucessor, Adama Barrow, e abandonou o país no sábado (21.01) à noite, rumo a Conacri. O seu destino final é a Guiné-Equatorial, país membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que o acolherá "pelo menos temporariamente", segundo fontes oficiais daquele país citadas por agências internacionais.
Jammeh, de 51 anos, partiu num avião privado, um Falcon 900 DX, juntamente com o Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé.
O anúncio de que ia abandonar o país foi recebido em ambiente de festa nas ruas da capital, Banjul, e nos arredores.
Numa mensagem transmitida horas antes pela televisão estatal, o ex-Presidente sublinhou que tinha sido unicamente sua a decisão de deixar a Gâmbia, apesar da enorme pressão exercida por líderes regionais, entre os quais o Presidente da Guiné-Conacri, para ceder o poder a Adama Barrow, vencedor das eleições presidenciais de 1 de dezembro.
Cofres vazios
Mas quando a nova administração assumir o poder, terá de lidar com sérias dificuldades financeiras, afirmou este domingo (22.01) Mai Fatty, um conselheiro próximo do novo Presidente. "Os cofres estão praticamente vazios", disse o assessor de Barrow, acrescentando que a informação já foi confirmada por técnicos do Ministério das Finanças e do Banco Central da Gâmbia.
Mai Fatty acusou Yahya Jammeh de ter saqueado cerca de 11.4 milhões de dólares (10.6 milhões de euros) do erário público nas suas últimas semanas no poder e de ter enviado para fora do país veículos de luxo em aviões de carga."De acordo com as informações que recebemos, não há dinheiro nos cofres. Mas no dia em que tomarmos posse, vamos esclarecer tudo", avançou o Presidente Adama Barrow à emissora senegalesa RFM.
O chefe do Exército gambiano, Ousman Badjie, declarou a sua lealdade ao novo chefe de Estado.
"Não haverá nenhuma guerra aqui", garantiu em entrevista à DW África. "Não somos nenhuns idiotas!", sublinhou Badjie, que reagiu calmamente quando interrogado sobre o envio de forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para o país. "Se os nossos irmãos forem enviados para cá, vamos recebê-los com uma chávena de chá. Este é um equívoco político e não haverá uma solução militar para um problema político."
Presidente legítimo
A partida de Yahya Jammeh da Gâmbia, após mais de 22 anos no poder - a que acedeu através de um golpe de Estado - põe fim a um impasse iniciado em dezembro.
Depois de reconhecer a vitória eleitoral do adversário logo após o escrutínio de 1 de dezembro e de se propor abandonar o país, o ex-Presidente mudou de ideias, ordenando ao exército que invadisse a sede da comissão eleitoral e contestando os resultados eleitorais junto do Supremo Tribunal.O novo Presidente, Adama Barrow, foi reconhecido internacionalmente pelo Conselho de Segurança da ONU, pela CEDEAO e também pela União Africana (UA).
Tem agora toda a legitimidade para exercer o cargo e é reconhecido em praticamente todo o mundo, diz em entrevista à DW Peter Penar, professor da Universidade norte-americana de Michigan e especializado em política na Gâmbia. "Ficou muito claro para todos que Adama Barrow é o novo Presidente da Gâmbia e será a partir de agora convidado a participar nas cimeiras da União Africana", sublinha.
A Alemanha saudou a cedência de poder na Gâmbia e assegurou que vai continuar a apoiar o país a "continuar no caminho para a democracia e o Estado de direito", de acordo com uma nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros divulgada no domingo (22.01). "Esta solução pacífica teria sido impossível sem os esforços de mediação da comunidade internacional - sobretudo dos países vizinhos e da CEDEAO", lê-se no documento.
Regresso do exílio?
Sobre a possibilidade de Yahya Jammeh poder regressar um dia do exílio, o professor Peter Penar acredita que, "em teoria", pode ser uma possibilidade, "mas seria uma opção muito perigosa e uma opção que muitos países da CEDEAO não veem com bons olhos".Jammeh ainda tem alguns apoiantes na Gâmbia e até conseguiu angariar votos nas eleições de 1 de dezembro, lembra o especialista. "Se ele regressasse, isso poderia causar distúrbios e focos de violência, numa fase em que o que o país mais precisa é a paz e se encontra numa situação muito precária", lembra.
Segundo observadores, Yahya Jammeh corre agora o risco de ser perseguido pelas arbitrariedades cometidas ao longo dos últimos 22 anos. E o seu exílio na Guiné Equatorial não é garantia de que, mais tarde ou mais cedo, não seja capturado.
Da Redação DWafrica/CP
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