Em suas últimas semanas na Casa Branca, presidente toma decisões drásticas como sanções à Rússia e a abstenção no Conselho de Segurança numa votação sobre Israel. Ele trabalha em seu legado ou quer desafiar Trump?O presidente Barack Obama deixa a Casa Branca da maneira que entrou, em 2008: no centro das atenções da política mundial. Pouco antes do fim do seu mandato, o presidente cessante mostra que não está interessado em evitar conflitos. Pelo contrário: suas sanções à Rússia não provocaram nenhuma reação direta de Moscou, mas deterioraram ainda mais as relações russo-americanas, um pouco antes da chegada do presidente eleito Donald Trump.
Também as relações com Israel estão em crise depois de os Estados Unidos permitirem, por meio de sua abstenção no Conselho de Segurança, uma resolução da ONU contra a política de assentamentos nos territórios palestinos ocupados.
Surpreende a muitos que Obama, pouco antes do fim de sua presidência, siga uma linha tão agressiva.
O cientista político Patrick Horst, da Universidade de Bonn, avalia que Obama não está interessado no próprio legado ao adotar medidas tão drásticas contra a Rússia e Israel, já que elas não resultam exatamente em legados. "Outros exemplos se prestariam melhor, como o Tratado Transpacífico (TTP, na sigla em inglês) ou o acordo com o Irã. Obama quer sobretudo reiterar suas posições de política externa perante a história", afirma Horst.
Porém, tanto nas sanções à Rússia como também na resolução na ONU sobre Israel pode haver muita frustração acumulada. "Isso vale principalmente para Israel, já que, no início da presidência, ele fez da solução de dois Estados um grande projeto. Kerry, Obama e também Clinton investiram muito tempo nisso. Isso provavelmente o deixa irritado", opina Horst.
Salvar o que ainda pode ser salvo
Outra explicação para a partida barulhenta de Obama pode ser que ele deseje concluir algumas coisas que não serão mais possíveis durante o governo Trump. "O governo Obama passou toda a corrida eleitoral com a certeza – na verdade uma ilusão – de que Hillary Clinton seria eleita presidente", afirma Irwin Collier, diretor do Instituto de Estudos Norte-Americanos John F. Kennedy, da Universidade Livre de Berlim. "Agora, em vez de simplesmente repassar certos problemas de sua presidência à próxima administração, Obama precisa, em pouco tempo, salvar o trabalho político de seus dois mandatos", acrescenta.
Para Collier, Obama não tinha outra opção a não ser agir na resolução da ONU sobre Israel, tendo em vista os próximos quatro ou até oito anos. "Os EUA tinham a escolha: ou dizer algo agora ou permanecer inativo por todo o tempo em que Trump controlar a política externa", avalia. No caso das sanções à Rússia, porém, Obama fez um favor para o futuro presidente, opina Collier. "Ele deu a Trump a possibilidade de apresentar Obama como bandido e, a si próprio, como mocinho."
Não há nada de novo no fato de presidentes americanos que tiveram dois mandatos concentrarem seus dois últimos anos na política externa e no seu legado, diz Horst. Ronald Reagan, por exemplo, chegou a um acordo de desarmamento com Mikhail Gorbatchov em seus dois últimos anos de mandato. Já George W. Bush levou adiante um acordo nuclear com a Índia. "Obama tentou fazer o mesmo, por exemplo com a retomada das relações com Cuba", afirma Horst.
No entanto, o especialista avalia como algo incomum o fato de Obama terminar sua presidência com um escândalo no Conselho de Segurança da ONU. "Eu não sei se isso já aconteceu antes, é algo realmente incompreensível. Mas Obama tem a fama de, em termos de política externa, ignorar seus assessores. Talvez tenha ocorrido o mesmo desta vez", avalia.
Da Redação DW/CP
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