DW África: Quais seriam as consequências de se avançar com o processo de descentralização sem antes se rever a Constituição?
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O jurista e jornalista Ericino de Salema defende que os partidos deveriam chegar a acordo sobre uma alteração da Constituição em Moçambique
DW Africa: Por um lado o Governo da FRELIMO pretende discutir a descentralização a um nível mais restrito e sem a presença de observadores internacionais, por outro, o partido FRELIMO no Parlamento mostra-se aberto a rever a Constituição. Para si isto é um pronunciamento que fica só a nível do discurso?
ES: Quando proferia o seu discurso no Parlamento, a chefe da bancada da FRELIMO, a senhora Margarida Talapa em nenhum momento disse de forma inequívoca que a FRELIMO pretende rever a Constituição. Ela usou muito o condicional. Pouca gente pensaria, de facto, que a FRELIMO iria rever a Constiuição. Logo existe aqui uma contradição. Tendo em conta a fase em que se encontra a RENAMO, não me parece razoável ou possível defender uma alteração antes de mexer na própria Constituição da República. Então a meu ver não passou de mero discurso de forma, um mero discurso político claramente problemático.
DW África: Há algum tempo que a oposição vem pedindo a revisão constitucional que lhe foi sempre negada. E como não tem um número de assentos suficiente está de mãos atadas. O que é possível fazer neste momento para se ultrapassar este impasse, tendo em conta que se está a discutir a descentralização e ela está intrinsicamente ligada à questão da Constituição?
ES: Acho que neste momento tem que haver um acordo entre as três forças que se fazem representar na Assembleia da República e mais concretamente a FRELIMO e a RENAMO. Neste momento nenhum partido seria capaz de rever a Constituição sozinho. Logo tem que haver acordo para que o texto da lei fundamental possa ser revisto. Tanto o MDM, como a RENAMO, como a FRELIMO já manifestaram publicamente, no passado, antes do assunto estar na ordem do dia, que tinham intenções de proceder à revisão constitucional. Sem este acordo político vai ser muito difícil tomar medidas.
Da Redação DW/CP
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