Segundo Carl-Richard von Weizsäcker, aconteceu o seguinte: "O bário é bem menor do que o núcleo de urânio e, se do urânio surgiu o bário, então é porque o núcleo explodiu. Foi exatamente assim que Hahn me explicou ao telefone sua inesperada descoberta".
A explosão do urânio representou a descoberta da fissão nuclear por Hahn. Mas quem decifrou definitivamente esse fenômeno químico foi Lise Meitner, uma pesquisadora que, durante 30 anos, trabalhara com muito sucesso com Hahn no instituto berlinense.
"Trabalhar com Otto Hahn era especialmente estimulante. O fato de ele ser o melhor radioquímico da época, e eu uma física para quem a mais simples equação química era mística, constituiu uma boa base e complementação para uma cooperação científica", disse Meitner.
Em 1938, a judia Lise Meitner teve de fugir da perseguição nazista para o exílio na Suécia. De lá enviou por carta a explicação histórica para os "curiosos resultados das análises" de Hahn. Segundo Weizsäcker, logo se tornou evidente que a fissão do urânio, induzida por nêutrons, possibilitava uma reação em cadeia capaz de liberar enorme quantidade de energia, e que seria possível construir o que hoje se chama de reator nuclear e a bomba atômica.
Instrumento de destruição
Pouco depois da descoberta de Hahn, Meitner e Strassman, a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) eclodiu. Os estudos sobre energia nuclear desvirtuaram para a construção de armas nucleares. Nos Estados Unidos, o Projeto Manhattan, cujo setor científico foi liderado pelo físico Robert Oppenheimer, usou a reação nuclear em cadeia para detonar a primeira bomba atômica perto do laboratório de Los Alamos, em 1945.
Hahn continuou suas pesquisas nucleares na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, até ser capturado pelas Forças Aliadas e levado para a Inglaterra. Em 1944, recebeu o Prêmio Nobel de Química pela descoberta da fissão nuclear.
Sua colega e amiga Lise Meitner não obteve nenhum reconhecimento pelo seu trabalho. Em seu discurso de agradecimento, Hahn fez uma advertência contra a propagação de armas atômicas. Com sua descoberta, ele havia pisado em um terreno minado da política internacional. A segunda e a terceira bombas cairiam sobre Hiroshima e Nagasaki, selando a vitória norte-americana na guerra.
Após o conflito, Oppenheimer tornou-se pacifista e lutou contra o uso das armas nucleares, sendo perseguido pelo governo norte-americano. Já Hahn, em 1957, assinou juntamente com outros 16 renomados físicos nucleares (entre eles Max Born, Werner Heisenberg e Carl-Friedrich von Weizsäcker) a chamada Declaração de Göttingen. A maioria dos políticos, porém, ignorou esse manifesto antinuclear.
Franz-Josef Strauss, então ministro da Defesa da Alemanha, rotulou Hahn de "velho imbecil, que não consegue conter as lágrimas, nem dormir, quando pensa em Hiroshima". Mas o cientista manteve-se fiel a seus princípios. Lutou até a morte contra a corrida atômica, desencadeada pela descoberta da fissão nuclear. Morreu em 1968, aos 89 anos, em Göttingen.
Da Redação DW/CP
Comentários
Postar um comentário