Respeitar os legítimos movimentos de protesto e tentar decifrá-los é fundamental para dar-lhes respostas adequadas. O estopim da mobilização é, mesmo, aceso pelo corporativismo estatal bem organizado e apoiado em seus “instrumentos externos”. Seu objetivo bem escondido é manter intactos os “direitos” que conquistaram desde o laxismo do governo Sarney.
De fato, há uma explicação minimamente convincente de como é possível – no que se supõe ser uma República – existir tanta diferença entre os “direitos” da casta estatal no que se refere à segurança no emprego, ao nível médio de salário, aos benefícios efetivos de saúde e educação da família e ao valor atual da sua aposentadoria e os correspondentes dos trabalhadores do setor privado que as financiam? Mal estimada, tal diferença é, pelo menos, proporcional à de 5 contra 1!
Eles têm todo o direito de se defenderem. E o fazem, oportunística e inteligentemente, reforçando o “cinturão protetor” que lhes garantiu os “direitos” adquiridos pela leniência da sociedade enquanto estava adormecida. Ao promover os protestos, usam o “corpo” e a “voz” das verdadeiras vítimas da tragédia nacional, revelados no nível de desemprego e na queda do salário real! A prevalência de jovens se explica porque, de cada quatro, um está desempregado.
A questão é: quem, afinal, produziu tal catástrofe? Não há a menor dúvida: foi a política voluntarista que, a partir de 2012, foi destruindo os estímulos ao investimento e, como consequência, deixou a herança de 12 milhões de desempregados.
Quem, afinal, produziu o espantoso desequilíbrio fiscal do país durante a campanha eleitoral de 2014 e só o reconheceu depois da vitória que enganou a sociedade? É a volta dessa política que pedem os honestos e desesperados manifestantes? Obviamente, não! Nenhuma sociedade é viável quando mata a esperança da sua juventude.
Precisamos acelerar a solução desse problema. Para isso é preciso que o Executivo e o Legislativo (independentes, mas harmônicos) construam, urgentemente, a “expectativa” de que, num horizonte razoável, voltaremos ao equilíbrio fiscal, o que é necessário, mas não suficiente. Isso antecipará a queda da taxa de juro real e preparará a volta do investimento privado. Somados ao eventual sucesso das concessões, que são investimentos em infraestrutura, consolidarão o crescimento do PIB em 2017. A volta do emprego será lenta, o que recomenda inteligentes e bem focadas políticas públicas que capacitem nossa juventude e lhe devolva a esperança.
Delfim Netto ex-ministro da Fazenda e escreve às quartas-feiras na Folha de S.Paulo – Opinião
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