País fica numa das áreas mais propensa a terremotos da Europa, mas adaptação de construções antigas esbarra em questões políticas e culturais. Segundo especialista, obras preventivas são relativamente simples.A destruição parcial ou total de diversos vilarejos da região central da Itália pelo terremoto da última quarta-feira (24/08) mostrou mais uma vez a vulnerabilidade de grande parte do patrimônio histórico do país.
O abalo sísmico, que eclodiu por volta das 3h30 (hora local), matou quase 300 pessoas e deixou dezenas de desaparecidos, presumivelmente mortos entre os escombros.
A Itália é provavelmente o país mais propenso a terremotos na Europa, mas muitos dos moradores de Amatrice e outras cidades medievais arruinadas pelo tremor de magnitude 6,2 temiam que a adaptação de seus edifícios antigos saísse muito dispendiosa.
"Nesta zona do país, muitos dos prédios são bastante frágeis e malcuidados porque não estão em uso durante boa parte do ano – somente no verão", afirma Dina D'Ayala, professora de Engenharia de Estruturas Dina D'Ayala do University College de Londres (UCL).
Durante a Idade Média, era comum a construção aglomerada de prédios urbanos por motivos financeiros, climáticos e de segurança. Mas sem reparos regulares e sem a conformidade com as mais recentes normas de edificações a prova de terremotos, tais edifícios são frequentemente fracos demais para resistir a uma forte atividade sísmica.
"Possuímos uma boa compreensão de como esses edifícios justapostos se comportam de um ponto de vista sísmico, e onde foi feito reforço, provou-se sucesso", afirma D'Ayala, explicando que os custos não foram proibitivos.
A acadêmica italiana diz que muitas outras cidades na Úmbria, região próxima à zona devastada, foram submetidas à adequação a abalos sísmicos após serem atingidas por ao menos três grandes tremores nas últimas quatro décadas. E elas se saíram bem neste terremoto.
Regras mais rígidas
Na Itália, a mais recente modificação do Código de Obras e Edificações, em 2008, estipulou especificamente o fortalecimento de estruturas já existentes, em particular as históricas. Mas edifícios menores ainda não estão sujeitos à nova regulação. Para D'Ayala, o fato de o governo ainda não ter imposto o código de forma abrangente se deve a questões políticas e culturais.
"Já que temos terremotos com bastante regularidade, além de tremores menores que não ocupam, necessariamente, as manchetes internacionais, agora há uma grande indústria voltada para o desastre e reconstrução", diz D'Ayala, acrescentando que, para as grandes construtoras, a restauração é muito mais lucrativa do que a adaptação a abalos sísmicos.
De forma geral, a população gosta de mudar o projeto de suas casas – construindo, algumas vezes, um segundo pavimento em edifícios de pé-direito alto. Os moradores não percebem, porém, que tais modificações podem prejudicar a estabilidade estrutural de suas construções.
O reequipamento de edifícios antigos é um procedimento relativamente simples que envolve a colocação de cintas de metal entre as empenas e a fixação das lajes às paredes, mas muitos proprietários ainda não foram convencidos.
"As pessoas não acham que isso é importante, que poderia salvar suas vidas. Em vez disso, eles dizem: 'Eu vou investir numa TV nova e chamativa'", comenta a especialista.
Há também um ponto de interrogação sobre como algumas licenças de construção são concedidas quando as reformas são claramente inseguras. Mesmo edifícios modernos não estão sempre em conformidade com o código mais recente de construções antissísmicas.
O velho contra o novo
A alternativa ao reequipamento também pode significar o abandono de um número maior de cidades italianas medievais. Por todo o país, centenas de vilarejos decadentes já foram entregues à destruição, apesar da reputação italiana de conservar seu patrimônio cultural.
Um número crescente de italianos exige que edifícios antigos abram caminho para que estruturas modernas a prova de terremotos sejam construídas em terreno seguro. Após o tremor da semana passada, o governo italiano prometeu que as autoridades locais, não as instituições nacionais, vão decidir o que será reconstruído e onde.
D'Ayala, que antes trabalhava como engenheira sísmica no reequipamento de igrejas e outros edifícios históricos na Itália central, diz que grande parte da devastada cidade de Amatrice já havia sido reconstruída em duas ocasiões anteriores, depois de tremores nos séculos 16 e 18.
Mas apesar da apatia do público quanto a questões de segurança, D'Ayala diz sentir uma mudança de atitude, notando uma maior disposição para o cumprimento do código de obras, desde o terremoto de L'Aquila em 2009, o mais fatal na história recente do país.
"Uma nova geração de engenheiros foi educada para ser mais consciente e mais sensível à questão. Isso está provocando uma mudança cultural, mas leva tempo", conclui.
Redação DW
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