A esperança em ser alguém melhor, mesmo diante de uma realidade social difícil, que para muitos, até irreversível. Pelo menos para 100 adolescentes de uma região bastante periférica de Várzea Grande, essa esperança está aliada agora a uma oportunidade real de fazer a diferença, seja dentro da comunidade escolar, na família e na sociedade. Um projeto pioneiro na área de educação está transformando e para melhor o dia-a-dia dos alunos do Caic do Jardim Alá, que fazem parte da Escola de Tempo Ampliado (ETA).
Com um pouco mais de atenção e suporte pedagógico, os sonhos de ser advogado, veterinária, músico, voltaram a povoar a mente de quem antes, via a escola como apenas uma obrigação e que agora enxerga uma janela que se abre para renovação das perspectivas de vida, a mudança da esperança por meio da crença em si mesmo e da descoberta do significado da palavra autoestima.
Os adolescentes do projeto passam o dia na escola, pela manhã seguem a grade curricular normal de acordo com a série que frequentam, e à tarde, ao invés de ficarem em casa, na rua ou sem qualquer funcionalidade, estão na escola aprendendo informática, destravando emoções e timidez por meio da dança, da música e do teatro, exercitando o corpo e a mente nas aulas de educação física ou aprendendo a cuidar de uma horta e recebendo reforço nas oficinas de matemática e português.
De forma experimental, a prefeitura de Várzea Grande, por meio da secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, implantou o projeto em outubro. “O projeto Escola em Tempo Ampliado foi idealizado pela prefeita Lucimar Sacre de Campos com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de educação e do rendimento escolar, oferecendo espaço de convivência para ações afirmativas que reduzam a vulnerabilidade social de crianças e adolescentes de Várzea Grande. A escola foi escolhida por estar localizada em um bairro de alto nível de vulnerabilidade social e baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Caic tem Ideb de 3,6, com meta de chegar a 4,6 em 2016”, explica a secretária de Educação, Zilda Pereira Leite.
Com menos de dois meses de implantação há resultados nítidos e positivos, e o maior ganho está na integração interpessoal e multidisciplinar dos alunos, que em maioria estão na faixa dos 12 anos aos 14 anos.
A coordenadora do projeto Escola de Tempo Ampliado, Anne Caroline Pereira, frisa que na prática o projeto veio trazer valores, acolhimento e a aproximação afetiva que a maioria precisa e não tem em casa e na família. Mesmo nesse pequeno intervalo o projeto que hoje é piloto se mostra um importantíssimo suporte de ensino e aprendizado para estudantes que necessitam de maior atenção. Os resultados, como cita, são satisfatórios e serão melhores no decorrer dos próximos meses. “A primeira interferência positiva foi a mudança do comportamento. Eles eram mais agitados, uma agitação que atrapalhava o ambiente escolar. Muitos não respeitavam os colegas, professores ou funcionários da escola. Agora, o bom dia, o boa tarde, o com licença, são palavras facilmente ouvidas, aliás, eles aprenderam a ouvir e se respeitar”.
A coordenadora frisa que não foi fácil chegar a essa mudança. “O que o projeto oferta é novo para eles. A hora do almoço, por exemplo, bem como o café da manhã eram momentos conturbados, mas agora uma pessoa apenas é suficiente para acompanhá-los, pois agora tem organização voluntária de fila e cortesia entre colegas. A palavra ‘muito obrigada’ agora ouve-se com frequência”, observou a professora.
Entre os alunos que tiveram o comportamento elogiado está Kaio da Silva, estudante do 9º ano, tem 16 anos e mora no Jardim Alá. Kaio era mais tímido, retraído e agora está interagindo com os colegas, até mesmo de outras turmas, como observa a coordenadora. “Antes de estar aqui na escola o dia todo, eu ficava em casa sem fazer nada, ficava na rua. Aqui eu gosto muito das aulas de educação física e de dança”. Sobre o futuro, Kaio diz que vai continuar estudando para ser advogado.
Os irmãos Alexandre (14) e Alessandro (12) Correia, moram perto da escola, no jardim Esmeralda. Os dois têm como marca o sorriso, o bom humor. Eles contam que também ficavam em casa depois que saiam da escola e que com o projeto estão tendo a oportunidade de aprender mais, inclusive com as oficinas de matemática e português.
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