No dia 20 de novembro de 1695, morria degolada, aos 49 anos de idade, a maior liderança negra da história do Brasil, Zumbi de Palmares. Neste ano, comemoram-se 320 anos de sua imortalidade. A luta de Zumbi, bem como a resistência do Quilombo de Palmares por um século, que alcançou uma população de 30 mil habitantes, tem para nós efeitos positivos: serve para estabelecer o elo com a nossa descendência e nossos antepassados e nos mantém informados sobre a nossa história, nossa luta no enfrentamento ao racismo e na construção de modelo igualitário de sociedade.
Rememorar Zumbi no dia 20 de novembro tem sido uma ação do movimento negro desde a década de 1970 para destacar o herói insurgente que se opôs ao cativeiro. Sua resistência fortalece a construção da autoimagem positiva de negros e negras em contraposição à aceitação passiva da escravidão. Contudo, essa ação tem individualizado a figura de Zumbi como se, sozinho, tivesse sido capaz de transformar Palmares em território de liberdade durante um século. Nesse sentido, é preciso resgatar a história de Palmares e de suas lideranças.
Três gerações
O Quilombo de Palmares constituiu-se de sucessivas gerações de lideranças. A primeira com Aqualtune, nascida de algum rei do Congo. Teve três filhos: Ganga Zumba, Ganga Zona e Sabina. Esta última era mãe de Zumbi dos Palmares, que se casou com Dandara e teve três filhos: Motumbo, Harmodio e Aristogíton.
Guerreira negra
O momento marcante de Palmares coincide com a resistência de Zumbi e Dandara, que lutaram contra o sistema escravocrata do século 17. A biografia de Dandara ainda é pouco conhecida. Não se sabe ao certo se sua ascendência é africana, mas acredita-se que nasceu no Brasil e foi criada desde muito pequena em Palmares.
Ela tinha domínio de táticas de guerra, participou de todos os ataques e defesa de Palmares e opôs-se, ao lado de Zumbi, ao tratado de paz de Ganga Zumba com o governo português. Ela venceu batalhas até ser assassinada no dia 6 de fevereiro de 1694, quase dois anos antes da morte de Zumbi.
Governo Lula e a cooptação do movimento negro
Em 2005, passados dez anos da primeira marcha, foi realizada a 2ª Marcha Zumbi +10 com o objetivo de fazer um balanço do que foi implementado de política racial no país nestes dez anos.
A segunda marcha, já no governo Lula, exigia a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto de Cotas nas Universidades, agilidade na regularização das terras quilombolas, combate ao genocídio da população negra e fim da intolerância às religiões de matriz africana. A questão racial passou a fazer parte da agenda política, e lideranças negras começaram a fazer parte do governo, ingressando na Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
A criação da Seppir, da Lei 10.639/2003 e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial foram as principais políticas adotadas durante o governo do PT. Implementada com sérios problemas, a Seppir foi um engodo para cooptar o movimento. Era a secretaria que tinha o menor orçamento até ser extinta em 2015 pelo governo Dilma, mostrando total descaso e descompromisso com a reparação e a justiça ao povo negro.
O Estatuto da Igualdade Racial passou dez anos tramitando no Congresso. Quando foi aprovado, suprimiu importantes pautas da luta negra, como as cotas nas universidades públicas, cotas no mercado de trabalho e a regularização de terras para remanescentes de quilombos.
Povo negro não tem nada a esperar do governo Dilma
Além da extinção da Seppir, outras medidas do governo atacaram a população negra, como a não titulação de terras quilombolas e indígenas, os cortes no orçamento da educação (R$ 13 bilhões) e da saúde (R$ 11,7 bilhões) e a redução de gastos com o programa Minha Casa Minha Vida, prejudicando várias famílias.
O aumento do genocídio da juventude negra a violência contra a mulher, a falta de recursos para aplicação da Lei 10.639/2003 – que obriga o ensino da história da África e da escravidão no Brasil nas escolas –, bem como a destinação de quase 50% do orçamento público para pagamento de banqueiros mostram de que lado a Dilma está. Para piorar, o governo Dilma manteve a ocupação militar no Haiti para reprimir os haitianos. Não há nenhum interesse em erradicar o racismo. Por isso, o povo negro não tem nenhum interesse em defender esse governo.
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