"Educadores e ex-presidentes latino-americanos pedem diálogo com jovens"

Debate contou com a participação de ex-presidentes da Bolívia, da Guatemala, do Panamá e do Uruguai.
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Seminário Brasil Rumo À Transformação Nacional - Desenvolvimento e integridade para uma liderança moral e inovadora. Ex-presidente da Bolívia (1989-1993), Jaime Paz Zamora
Jaime Paz Zamora:  “Os jovens devem se sentir privilegiados por viver esse período, pois o conflito se instalou dentro da democracia, e não do militarismo e do golpismo”
Debatedores defenderam nesta quinta-feira (12), na Câmara dos Deputados, a ampliação do diálogo com a juventude como alternativa à crise de valores no sistema educacional de países latino-americanos. Eles participaram do seminário Brasil Rumo à Transformação Nacional, promovido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara em parceria com a organização Global Peace Foundation.
Para o coordenador do Departamento de Relações Internacionais da PUC-GO, Danillo Alarcon, os jovens redesenham a educação ao disseminar novas tecnologias. "Quando a juventude usa, massivamente e sem volta, as tecnologias de informação, faz uma revolução silenciosa à qual toda a sociedade tem de se adaptar”, disse.
“Não podemos mais fazer a educação fechada na sala de aula, a participação de alunos em seminários como este é uma forma de trazê-los para a realidade política”, sustentou.
Alarcon afirmou que a ideia é renovar valores e não resgatá-los. “Não queremos voltar a valores antigos, que criaram guetos nocivos, de preconceitos, queremos que a política seja o exercício da tolerância e base real de resolução dos conflitos”, afirmou.
Ele disse que os países emergentes começaram a se posicionar sobre o tema com a 1ª Cúpula da Juventude dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em julho, na Rússia.
A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) elogiou a iniciativa do seminário e defendeu maior diálogo entre os jovens e as instituições. “A política é o espaço real de convivência da consciência humana, não existe hoje no mundo algum espaço que não seja a política, é nela que construímos as normas de convivência.”
Crise de valores
Já para o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), a solução para a crise educacional é a retomada dos valores tradicionais. Conforme ele, os regimes democráticos de direita e de esquerda têm se preocupado muito com a ideologia, esquecendo-se da formação do caráter. “Sem uma formação do homem, dificilmente você terá um bom político pela frente”, sustentou.

Para Carlos Mesa, que presidiu a Bolívia entre 2003 e 2005, a conta dessa crise de valores não deve ser cobrada apenas dos políticos. “Os políticos corruptos são filhos de nossa sociedade. Para mudar, não basta culpá-los, devemos desconstruir essas ações políticas”, disse. Segundo ele, as mudanças devem ser encabeçadas por partidos políticos, sob o risco de se contrapor ao avanço republicano.
Presidente da Bolívia entre 1989 e 1993, Jaime Paz Zamora minimizou os efeitos da crise. “Os jovens devem se sentir privilegiados por viver esse período, pois o conflito se instalou dentro da democracia, e não do militarismo e do golpismo”.
Zamora ressaltou que os níveis de educação, saúde e renda bolivianos melhoraram, a partir do diálogo entre as diversas vertentes políticas do País.
O ex-presidente da Guatemala Vinicio Cerezo (1986-1991), por sua vez, chamou atenção para o recuo da “educação cívica” na América Latina. “Temos de reconstruir o sonho americano, mas não sabemos como defini-lo”, falou.
Segundo ele, é preciso repensar os objetivos nacionais, a exemplo da Alemanha no entre guerras, por intermédio de responsabilidades e deveres (pagamento de impostos, serviços militares, trabalho).
Comparação
O presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), disse que a troca de experiências durante o seminário vai ser útil para futuros debates na Câmara.

"Estou comparando o que cada um traz de conceitos modernos em relação à educação. No Brasil, precisamos incorporá-los, até porque, se nós conseguimos avançar no acesso à educação, estamos patinando na qualidade, quando comparado com outras nações com grau de desenvolvimento semelhante ao do Brasil", disse o deputado.
Também participaram do seminário os ex-presidentes do Panamá Nicolás Ardito Barletta (1984-1985) e do Uruguai Luis Alberto Lacalle (1990-1995).
Reportagem – Emanuelle Brasil e Ginny Morais
Edição – Pierre Triboli

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