"Ex-diretor financeiro do BNY Mellon nega influência em operações do Postalis"

Marcelo Pereira da Silva prestou depoimento nesta quinta à CPI dos Fundos de Pensão. Relator não ficou satisfeito com as declarações do ex-dirigente.
Ex-diretor financeiro do BNY Mellon Brasil, Marcelo Pereira da Silva disse nesta quinta-feira (22), em depoimento à CPI dos Fundos de Pensão, que o banco não interferiu nas decisões sobre compra e venda de ativos do fundo de pensão dos servidores dos Correios, o Postalis. De acordo com ele, a instituição atuou apenas na fiscalização do cumprimento da política de investimentos.

Luiz Alves / Câmara dos Deputados
Audiência Pública e Reunião Ordinária. Ex-diretor Financeiro do BNY MELLON, Marcelo Pereira da Silva
Segundo Marcelo Pereira da Silva, contrato com o Postalis era meramente administrativo: "BNY Mellon somente interfere em contratos de gestão"
Pereira da Silva explicou que BNY Mellon interfere somente em contratos de gestão, diferentes do assinado com o Postalis, de viés administrativo. “No caso de um cliente como o Postalis, que a norma trata como investidor qualificado, o próprio cliente é quem toma as decisões sobre onde alocar seus recursos”, informou. “O BNY, como administrador do fundo, nem poderia opinar a respeito dos investimentos, salvo se não estivessem de acordo com as regras”, ressaltou.

O relator da CPI, deputado Sergio Souza (PMDB-PR), que solicitou a convocação do ex-diretor, não ficou satisfeito com as explicações. Ele afirmou que a comissão trabalha para provar que o BNY atuava de forma simultânea como administrador e gestor de investimentos em operações do Postalis.
Por essa razão, defendeu Souza, o banco deve assumir responsabilidade solidária pelos prejuízos da ordem de R$ 3 bilhões a 120 mil pensionistas dos Correios. Ele lembrou que a instituição financeira fez acordo na justiça norte-americana em março deste ano para ressarcir clientes em US$ 700 milhões.

Negligência
Pereira da Silva reconheceu, porém, a falha do BNY em negligenciar as irregularidades nos investimentos do Postalis em títulos da dívida de países latino-americanos. “Teria havido uma fraude por parte do gestor daquela carteira [Fabrizio Neves].” Segundo o ex-diretor financeiro, o banco, tão logo teve ciência, prestou informações sobre os problemas da transação ao fundo e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Discussão e Votação do Parecer à PEC 215/00. Dep. Sérgio Souza (PMDB-PR)
Sergio Souza: CPI quer provar que banco atuava como administrador e gestor de investimentos em operações do fundo de pensão dos Correios
O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), por sua vez, apontou que o Postalis foi informado da baixa da ordem de 400 milhões de dólares nas aplicações com 30 dias de atraso.
Em 2011, o fundo de pensão dos Correios comprou títulos da dívida da Venezuela e Argentina, por intermédio de fundo administrado pelo BNY. Os investimentos perderam 65% de seu valor com o calote argentino.
Imprecisão
Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), as declarações do ex-diretor financeiro do BNY Mellon foram “imprecisas” e deixaram pontos obscuros que poderiam ser mais bem elucidados com a convocação do ex-presidente do BNY José Carlos de Oliveira, desligado da empresa em 2013 e apontado como o principal articulador das operações fraudulentas envolvendo o Postalis.

“No mercado, sempre há o risco de ganhar ou perder, o problema é que, na Postalis, a derrota era permanente, por conta da má qualidade de gestão, da corrupção e da falta de avaliação de risco adequada” declarou Pestana. E isso ocorre, na avaliação do parlamentar, pela opção do fundo por ativos de risco elevado, o que não corresponde ao perfil de seus beneficiários.
Durante o depoimento, Marcelo Pereira da Silva afirmou desconhecer detalhes sobre a prestação de serviços do BNY ao Postalis ou a outro fundo de pensão, uma vez que essas análises, disse ele, estavam fora de sua área de atuação (balancetes contábeis).
Demissão
O ex-diretor financeiro foi demitido por justa causa em 2013, mesmo ano do desligamento de José Carlos de Oliveira. Pereira da Silva explicou que sua saída foi motivada por uma reforma interna, em 2008, que culminou na demissão do ex-diretor de tecnologia Delano Franco. O depoente admitiu que, em 2008, teve influência em uma decisão que concedeu bonificação a Delano.

“Eu havia participado do processo [que gerou a bonificação], mas isso foi interpretado como violação do código de conduta interno do banco. Fui chamado para prestar esclarecimento e, no dia seguinte, já estava dispensado.”
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Marcelo Oliveira

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