Cenário do setor é animador, na avaliação de participantes de audiência pública na Câmara, mas deputados da Comissão de Minas Energia criticam falhas na transmissão da energia produzida pelo vento.
Antonio Augusto
Debatedores ressaltaram que a expectativa do setor é ter quase 22 gigawatts instalados em 2023 no Brasil, contra os 7 gigawatts atuais, que respondem por 5% da matriz elétrica brasileira
O Brasil vem se tornando referência na produção de energia eólica e ainda pode crescer muito. Especialistas traçaram, nesta quarta-feira (19), um panorama da matriz energética no País e listaram também desafios, em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.
Com participação ainda restrita a 5% da matriz elétrica brasileira, a fonte eólica tem hoje uma capacidade instalada de 7 gigawatts (GW), em 281 usinas. É energia que chega a aproximadamente 6 milhões de residências, principalmente no Nordeste. A expectativa do setor é chegar a 2023 com quase 22 GW instalados.
O potencial eólico do Brasil é estimado em mais de 400 GW. O País fechou 2014 na 10ª posição de capacidade instalada, entre os países geradores. Foram mais de R$ 17 bilhões investidos na construção de parques eólicos no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
“A energia gerada no ano passado fez com que algumas termelétricas não precisassem colocar sua energia no sistema”, afirmou o diretor da Abeeólica Sandro Yamamoto.
Ainda segundo Yamamoto, a energia eólica é segunda mais competitiva no Brasil atualmente, atrás apenas das grandes hidrelétricas. “Quando os reservatórios das hidrelétricas estão baixos, a fonte eólica é bastante útil”, observou.
Desenvolvimento
O diretor da Abeeólica acrescentou que o setor gera desenvolvimento para o País, uma vez que os parques são instalados em locais pobres.
Diretor na empresa Casa dos Ventos, Clécio Eloy disse que, entre 2010 e 2015, a firma realizou 11.493 contratações com prazo médio de dois anos. “A maior parte dos empregos é gerada durante a obra. Pensando em termo de energia, onde é diferente? Com hidrelétrica, os contratos também são temporários. Mas, depois, temos pelo menos mil empregos só dentro da Casa dos Ventos”, contabilizou.
Eloy lembrou ainda que o setor eólico paga pelo uso da terra onde os parques são instalados. São R$ 45,3 milhões pagos anualmente pela Casa dos Ventos a famílias das pequenas propriedades cedidas. As prefeituras também arrecadam em cima da cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS).
Desafios
Os desafios do setor incluem o transporte de equipamentos, que é feito por rodovias com escolta da Polícia Federal, em razão de o preço da cabotagem ser alto. O setor clama ainda pela manutenção de investimentos e pede a redução de tributos.
Diversos deputados presentes à audiência manifestaram ainda preocupação com ausência de linhas de transmissão em alguns parques eólicos, o que impede a distribuição da energia gerada.
Segundo Sandro Yamamoto, o problema já foi maior, mas hoje 12 parques prontos no Ceará, no Rio Grande do Norte e na Bahia ainda não contam com linhas que os interliguem a sistemas de distribuição. “Cabe ao governo realizar leilões de transmissão para que sejam feitos grandes sistemas que cheguem próximo dos parques eólicos. Ocorreu um descompasso”, disse.
Antonio Augusto
Rodrigo de Castro (D) aponta falta de planejamento e incompetência do governo como causas dos problemas de transmissão da energia eólica
A Comissão de Minas e Energia aprovou em maio uma proposta de fiscalização e controle (128/13), do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), para vistoriar parques no Nordeste onde faltariam as linhas de transmissão. Uma delegação de parlamentares deve ir à Bahia nos próximos 20 dias.
“O governo federal, por falta de planejamento, por incompetência, fez os empreendedores construírem e não pensou na linha de transmissão”, declarou o presidente do colegiado, deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG).
Para evitar esse tipo de problema, mais recentemente, os leilões de transmissão têm sido realizados antes dos de geração de energia.
Contratação
Na sexta-feira (21), o governo federal realiza leilão para contratação de energia eólica. O preço estipulado é de R$ 184 por megawatt/hora. “Esperamos contratar uma boa quantidade de energia”, disse o coordenador-geral de Fontes Alternativas do Ministério de Minas e Energia, Lívio Teixeira de Andrade Filho.
Na avaliação da Abeeólica, o preço poderia ser maior, de R$ 210. “A nossa expectativa é que os preços colocados pelo governo sejam maiores, para promover a competição em função da situação conjuntural do País, com novas taxas de juros e de câmbio”, afirmou Yamamoto.
Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Marcos Rossi
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