"Denatran pode fazer campanha educativa sobre acidentes em ferrovias"

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) vai avaliar a possibilidade de incluir a conscientização dos perigos de acidente nas ferrovias brasileiras em suas campanhas pela paz no trânsito. Esse foi um pedido de deputados em audiência pública ocorida hoje, na Comissão de Viação e Transportes.
A coordenadora substituta de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do Denatran, Rita de Cássia da Cunha, informou que vai levar a questão para a direção do órgão. “Os acidentes são provocados por pedestres e por veículos que cruzam as ferrovias”, avaliou.
O encontro foi solicitado pelo deputado Hugo Leal (Pros-RJ), que espera do governo mais campanhas de esclarecimento da população quanto aos perigos que rondam as linhas de ferro.
Acidentes
O Sistema de Acompanhamento e Fiscalização do Transporte Ferroviário (Saff) registrou 8.741 acidentes ferroviários entre 2006 e 2013. Ao longo dos anos, foi registrada queda: o número de ocorrências passou de 1.638, em 2006, para 866, em 2013.

Apesar da diminuição, parlamentares, representantes do governo, das concessionárias e dos usuários reconhecem a importância das campanhas de conscientização. Isso porque os trilhos cortam cidades, passando perto de regiões habitadas e cruzando vias urbanas.
“Um trem não para como o automóvel. Ele leva de 350 a 650 metros para poder parar. Foge ao controle do maquinista enxergar o obstáculo para poder mobilizar o trem”, alertou o diretor de Operações da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, Bento José de Lima.
As sinalizações para o maquinista existem, disse ele, mas as pessoas precisam ser educadas. Por isso é que, segundo Lima, durante a construção da ferrovia Norte-Sul, no trecho entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), a Valec, que é uma empresa pública, realizou campanhas, principalmente nas escolas da região e nas rádios locais.
Também segundo o diretor Institucional da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF), Fernando Paes, as concessionárias de ferrovias vêm fazendo um trabalho positivo no setor. “As concessionárias utilizam todos os recursos de sinalização. No entanto, as principais causas dos acidentes são a imprudência e o descuido de motoristas e pedestres”, observou.
Filmes exibidos na audiência mostraram carros e pessoas passando sobre trilhos descuidadamente. Há pedestres, por exemplo, que atravessam a linha olhando o celular ou com fones nos ouvidos, outros que param para tirar fotos e ainda jovens que se aventuram pendurando-se nos vagões.
Pontos críticos
O diretor de Infraestrutura Ferroviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Mário Dirani, informou que o órgão já identificou 276 pontos críticos nas linhas férreas brasileiras. São locais que demandam algum tipo de intervenção, como a construção de viadutos, de rebaixamentos para passagem de pedestres e veículos ou de contornos ferroviários para evitar que uma linha cruze a cidade.

Os investimentos para realizar as obras estão estimados em R$ 11,27 bilhões. Esses recursos serão liberados ao longo dos anos conforme alocação do Ministério do Planejamento.
Integração
Na avaliação de Hugo Leal, a eliminação completa de acidentes passa por uma maior integração entre os órgãos do governo. “Não adianta achar que o problema da ferrovia é só da ferrovia. É trabalho do município, do estado e da União nas ferrovias que já são concedidas”, disse. “Enquanto os recursos para investimentos não saem, temos de atuar por meio das campanhas.”

O parlamentar anunciou que vai cobrar do Denatran as campanhas de conscientização e que vai levar o assunto também ao Ministério das Cidades.
Reportagem – Noéli Nobre
Edição - Patricia Roedel

Comentários