"Nordeste e Sudeste não estão livres da crise hídrica, diz meteorologista"

A crise hídrica no Sudeste e no Nordeste ainda não terminou, e os reservatórios de água das duas regiões, tanto para abastecimento humano como para geração de energia elétrica, poderão entrar em colapso, no próximo ano, caso a estação chuvosa do verão fique abaixo da média histórica.
O alerta foi feito nesta terça-feira (9), na Câmara dos Deputados, pelo meteorologista Carlos Nobre, uma das principais referências do País em estudos sobre mudanças climáticas.
Nobre, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e atualmente presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), participou de audiência pública promovida pela comissão especial que analisa a crise hídrica.
O Nordeste e o Sudeste são as duas regiões mais populosas do País, abrigando quase 70% da população brasileira. Desde 2012, os estados nordestinos convivem com a seca mais severa das últimas décadas. Já os estados do Sudeste passaram a enfrentar o problema a partir de janeiro do ano passado, que atingiu mais severamente a região metropolitana de São Paulo.
Medidas urgentes
De acordo com Carlos Nobre, a meteorologia não tem como prever com tanta antecedência como será a próxima estação chuvosa nas duas regiões. A dificuldade obriga a adoção de medidas urgentes, principalmente para economizar água. “Temos que trabalhar com essa incerteza. A prudência e o princípio da precaução recomendam a máxima economia de água”, disse.

Segundo o presidente da Capes, das regiões metropolitanas do Sudeste, a do Rio de Janeiro é a que menos atentou para a necessidade de economizar água. Ele lembrou que a capital fluminense vai sediar as Olimpíadas de 2016, em agosto, período mais seco na cidade.
Caso as chuvas fiquem abaixo da média, e a cidade não adote medidas adicionais, poderá haver problemas durante os jogos. “Parece-me que o Rio de Janeiro ainda não se deu conta da gravidade desse problema”, afirmou.
Convulsão social
No caso do Nordeste, Carlos Nobre disse que a situação é mais crítica a cada ano. “O Nordeste vive um dos períodos mais secos do registro histórico que nós temos. E do Nordeste nós temos dados desde a época do Império”, disse.

O meteorologista afirmou que a população só não foi mais atingida porque programas sociais como Bolsa Estiagem, Garantia-Safra e abastecimento por carros-pipa conseguiram reduzir o impacto da falta de água.
“Se não fossem esses programas, que custaram até o ano passado R$ 15 bilhões, certamente o Nordeste teria entrado em uma enorme convulsão social”, afirmou. Nobre defendeu que a região invista em uma economia baseada em pouco uso de água. Para ele, os estados da região possuem potencial para produção de energia solar e eólica, que não dependem de estações chuvosas.
Solos salinos
Também convidado para o debate, o professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Paulo César do Nascimento alertou para os efeitos da crise hídrica sobre os solos. Segundo ele, com os climas mais secos, a tendência é que a salinidade dos solos aumente, prejudicando a agricultura.

“É um limitante sério na região do Nordeste, e isso pode, a médio prazo, se expandir”, disse Nascimento. Questionado pelo relator da comissão, deputado Givaldo Vieira (PT-ES), ele disse também que a falta de chuva diminui a formação de biomassa nos solos, tornando-os mais pobres.
Para o deputado Nilto Tatto (PT-SP), a situação descrita pelos dois especialistas evidencia a necessidade de medidas governamentais urgentes para conter os efeitos da seca. “O que está vindo pela frente aí é muito grave. Talvez o mais grave seja que a gente não consegue que isso tome conta da consciência da população como um todo”, afirmou.
Reportagem – Janary Júnior
Edição – Newton Araújo

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