"ARTIGO : Seo Capilé"

Os cabelos grisalhíssimos do Seo Capilé nos deixaram aos 99 anos. Certamente cada fio embranqueceu, além da genética, por emoções colecionadas cedo. Eu o conheci assim que cheguei a Mato Grosso, de cabelos brancos como agora, há quase 40 anos. Aliás, o conhecia de nome em Brasília, através do seu irmão, o médico Júlio Capilé, com  quem convivi na Loja Maçônica “Cavaleiros da Fraternidade”.
            Aos poucos nossas relações cresceram e, apesar, de não nos vermos constantemente, eram asseguradas pela simpatia e o bem querer mútuos. Boas prosas, boas lembranças e muita história. Acabei por me relacionar com todos, porém, mais de perto com alguns membros da família, como os filhos Osmar Capilé, Vera, Iris, os genros Valdir Bertúlio e Adelino Praeiro, além de netos, entre eles o jornalista Gustavo de Oliveira.
            Fui ao seu velório e encontrei tantos bons e velhos amigos e amigas. Ver tanta gente junta homenageando o Seo Capilé, me fez lembrar quantas pessoas boas com quem convivi aqui em Mato Grosso nesses quase 40 anos. Nasci em Minas, mudei-me para Brasília, de onde vim muito jovem. Lá, não convivi com gerações anteriores à minha. Aqui tive a oportunidade de conviver com pessoas dessas gerações e vi muitos partirem. Vi Seo Capilé e me lembrei de tanta gente que não está mais aqui, mas que construiu parte importante da história de nosso estado. Uma felicidade ter convivido com eles.
            Seo Capilé e eu nos aproximamos na década de 1980, quando ele foi chefe do gabinete do deputado estadual Alves Ferraz, presidente da Assembléia Legislativa. Parecia movido a energia nuclear. Conversávamos muito mais naquela época. Depois visitei-o algumas vezes na sua chácara. Lá bebi da água doce de um poço de sua estimação localizado dentro da varanda da casa avarandada, onde suas filhas realizaram trabalhos espirituais por muito tempo.
            Outro encontro memorável foi num clube de chorinho ali próximo ao Shopping Goiabeiras onde arrancava graves acordes do seu violão. Ou dava um espetáculo dançando a capricho com Dona Roma, que nos deixou há alguns anos. O violão era um grande companheiro de quem viveu, trabalhou sonhou muito, cultivou um fortíssimo senso de família e partiu depois de ver quase tudo desse mundo, faltando um para os 100 anos.
            Deixa-nos a saudade da sua presença suave e enérgica, e a garantia que se pode ser decente e honesto ao longo da vida, mesmo que ela alcance os 99 anos. Abração, meu amigo. Mais você não precisa no bom lugar para onde foi.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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