"Segue para sanção mudança no acesso ao seguro-desemprego"

Após cinco horas de discussões, o Senado aprovou ontem o Projeto de Lei de Conversão 3/2015, decorrente da Medida Provisória (MP) 665/2014. O texto é uma das MPs do ajuste fiscal e endurece as regras para a concessão do seguro-desemprego, do abono salarial e do seguro-defeso. 

O projeto agora vai para a sanção da presidente Dilma Rousseff. Por acordo dos líderes, a ordem do dia de hoje foi antecipada para as 14h, quando o Plenário retomará a discussão da MP 664/2014, que estabelece novas regras para a concessão do auxílio-doença e da pensão por morte. Para amanhã, está prevista a vota- ção da MP 668/2015, que eleva as alíquotas da contribuição para o PIS-Pasep e da Cofins na importação de bens. 

Quanto ao seguro-desemprego, as alterações obrigam a comprovar mais tempo de trabalho para ter direito ao benefício. A lei anterior exigia seis meses consecutivos de trabalho para que a pessoa pudesse requerer o seguro- -desemprego pela primeira vez. Agora, só poderá ser solicitado inicialmente após 12 meses de trabalho. Pela segunda vez, a partir de nove meses. Pela terceira vez, com seis meses de trabalho. 

O valor do abono salarial (destinado ao trabalhador que teve no ano anterior ganho médio de no máximo dois salários mínimos) não será mais de um salário mínimo, mas proporcional ao período trabalhado. Se o trabalhador ficou empregado seis meses, receberá metade de um salá- rio mínimo. O tempo mínimo de trabalho exigido no ano anterior sofreu alterações. Os 30 dias exigidos na regra atual passam para 90, que não precisarão ser ininterruptos. O seguro-defeso é uma espé- ciem de seguro-desemprego pago aos pescadores durante o defeso (período determinado pelo Ibama para a proteção da espécie pescada, possibilitando a procriação). Em 2015, esse período vai de abril a agosto. A proposta aprovada manteve as regras atuais, mas passou a responsabilidade pelo cadastro do benefício do Ministério do Trabalho para o Ministério da Previdência Social. O valor é de um salário mínimo.

 Críticas A aprovação da MP 665 foi marcada por críticas ao texto, até mesmo entre governistas. A sessão do Senado chegou a ser suspensa em razão de manifestações nas galerias. Senadores contrários à medida usaram todas as oportunidades para tentar atrasar a votação. Grande parte das críticas se concentrou no ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Os senadores lembraram o fato de o governo basear o ajuste fiscal em medidas que prejudicam os trabalhadores, apesar de, na campanha eleitoral, Dilma ter afirmado que não faria isso. — O Partido dos Trabalhadores hoje trai a sua essência — disse a ex-petista Marta Suplicy (SP), atualmente sem partido. 

Apesar das críticas, os senadores rejeitaram todos os 11 destaques (pontos do texto votados separadamente). O destaque em que se esperava maior discussão era o que tratava do abono salarial. O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), afirmou que votaria a favor da MP porque o governo se comprometeu a vetar a parte do texto que prevê a exigência de 90 dias de trabalho para a obtenção do abono. Não houve, porém, compromisso de veto sobre a proporcionalidade no pagamento. 

Para Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), a mudança no abono salarial é inconstitucional. — Agora o abono será pago à proporção dos meses trabalhados, o que fere o preceito constitucional. Está lá escrito com todas as letras: pagamento de um salário mínimo. Não se fala em pagamento proporcional — argumentou Cássio.

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