O executivo Renato Sanches Rodrigues, diretor de Operações e Participações da empresa Sete Brasil, uma das investigadas na operação Lava Jato, disse nesta quinta-feira (14) em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que não participou do processo de criação da empresa nem dos contratos assinados pela Sete com a estatal petrolífera para a construção de sondas.
Sanches disse que passou a integrar a diretoria da empresa apenas em junho do ano passado e repetiu várias vezes, durante o depoimento, que não sabia de detalhes da criação da empresa nem dos contratos da Petrobras com empresas acusadas de formação de cartel.
22 bilhões de dólares
A Sete Brasil é uma empresa privada criada pela Petrobras em 2011 para construir 28 sondas de perfuração para exploração do petróleo do pré-sal. Os contratos de operação entre a Sete Brasil e a Petrobras eram de 500 mil dólares por dia de operação para as primeiras sete sondas e de 530 mil dólares para as outras 21. O total era de 22 bilhões de dólares.
O presidente da Sete Brasil, Luiz Eduardo Guimarães Carneiro, em depoimento à CPI na semana passada, afirmou que cada plataforma custa 800 milhões de dólares.
Ao responder pergunta de um dos sub-relatores da CPI, deputado André Moura (PSC-SE), Sanches Rodrigues disse que os preços das sondas contratadas pela Petrobras eram compatíveis com os praticados no mercado.
“Os preços eram mais ou menos os mesmos do mercado, apesar do componente nacional, que encarece a fabricação”, disse.
Crise pós Lava Jato
Segundo o diretor da Sete Brasil, a empresa enfrenta uma crise financeira por causa da Operação Lava Jato. “A operação restringiu o crédito e aumentou as exigências dos contratos”, disse. Segundo ele, apenas dois dos estaleiros contratados pela Sete Brasil para construir sondas de perfuração estão funcionando, o Jurong e o BrasFels.
A Sete Brasil contratou em 2011 os estaleiros Jurong Aracruz (ES), Estaleiro Atlântico Sul (PE), BrasFels(RJ), Estaleiro Rio Grande (RS) e Estaleiro Enseada Paraguaçu (BA) para construir as sondas e deixou de pagar pelos contratos em novembro do ano passado, depois que o BNDES não liberou empréstimo de 18 bilhões de dólares para a empresa.
Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
André Moura: Sete Brasil foi criada para burlar a lei para beneficiar acionistas privados, em um projeto altamente rentável.
Segundo o ex-gerente de Tecnologia da Petrobras Pedro Barusco, houve pagamento de propina pelos estaleiros para diretores da estatal e partidos políticos.
Rodrigues afirmou conhecer Barusco desde a década de 1980, quando trabalhava na Petrobras, mas alegou haver tido contatos esporádicos com ele nesse período. Disse o mesmo em relação ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque – também acusado de receber propina de empresas contratadas.
Burlar licitações
Apesar das explicações de Rodrigues, o sub-relator da CPI que investiga a Sete Brasil, deputado Andre Moura (PSC-SE), está convencido de que a empresa foi criada para burlar a Lei de Licitações (8.666/93) para dar lucro a empresas privadas. Ele estranha que a empresa, com menos de um ano de funcionamento, tenha ganhado contratos de mais de 20 bilhões de dólares da Petrobras.
"A Sete Brasil foi constituída com o propósito de burlar a legislação e os processos licitatórios com o propósito de prestar um serviço à Petrobras juntamente com acionistas privados, a exemplo de bancos como o Santander, BTG Pactual, Bradesco e fundos de pensão, em um projeto altamente rentável", disse.
Reportagem – Antônio Vital
Edição – Newton Araújo
Comentários
Postar um comentário