O desempenho da economia no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foi um dos piores da história republicana brasileira. O país escapou da recessão por um triz, mas manteve-se sempre abaixo das demais nações do continente durante todo o período. As perspectivas para este e o próximo anos não são animadoras e o Brasil corre risco de ser um dos cinco países do mundo a apresentar retração em 2015. Vivemos hoje asfixiados por uma mistura tóxica que, além do baixo crescimento, nos afeta com inflação alta, desarranjo fiscal e taxas de desemprego em ascensão. Para completar o triste quadro, os brasileiros estão empobrecendo.
A divulgação do PIB anual é sempre boa oportunidade para fazer uma radiografia da saúde econômica do país. Melhor ainda quando coincide com o fim de um mandato presidencial, permitindo tirar a fotografia definitiva da gestão que termina, em termos da geração de renda e riqueza. O que os números relativos às contas nacionais divulgados pelo IBGE no fim de março revelam é uma nação que, nos últimos quatro anos, praticamente parou e, agora, corre o risco de andar para trás.
Por mero capricho estatístico, a economia brasileira escapou de registrar uma recessão no último ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. O PIB de 2014 ficou estagnado, com alta de apenas 0,1%. Foi o menor resultado desde a crise global de 2009 e, assim mesmo, porque ajudado pela revisão da metodologia de cálculo feita pelo IBGE - que levou à modificação de todos os índices trimestrais desde 2000. Na média, o crescimento econômico sob a gestão da petista foi de 2,1% ao ano, a pior marca desde o governo de Fernando Collor de Mello.
Se o painel geral é ruim, os detalhes são ainda mais preocupantes. Entre os destaques negativos de 2014 estão o tombo de 4,4% dos investimentos, o maior em 15 anos, e mais uma retração (-1,2%) da indústria, setor que acumula sete trimestres seguidos de queda e, portanto, já está há bastante tempo mergulhado em recessão. Durante muito tempo motor do crescimento econômico local, o consumo das famílias também rateou e teve a menor alta em 12 anos (0,9%). Para completar o quadro deplorável, tanto a taxa de investimento quanto a de poupança despencaram: para 19,7% e 15,8%, respectivamente.
Brasileiros ficam mais pobres
Em geral, os componentes do PIB foram muito ruins. Mas um resultado em especial foi ainda pior: o PIB per capita, que mede o efeito da expansão da economia sobre a renda de cada habitante, caiu 0,7% no ano passado. Isso significa dizer que os brasileiros ficaram mais pobres. Nesta base de comparação, a expansão média nos primeiros quatro anos de governo Dilma foi de apenas 1,2% ao ano. Mantido este ritmo, seriam necessários 59 anos para dobrar o PIB per capita brasileiro.
O retrato da economia ao final destes quatro anos contrasta fortemente com as previsões e promessas feitas pela presidente ao longo de seu mandato. Dilma iniciou seu governo prometendo que faria a economia crescer 5% em média no quadriênio. Jamais sequer passou perto da marca, a despeito de os ventos globais terem deixado de soprar desfavoravelmente à economia do Brasil. A cada frustração, a presidente anunciava que, logo logo, entregaria o "pibão" com o qual havia se comprometido em 2012. Mas ela só produziu, na realidade, pibinhos em série.
A constatação do péssimo desempenho no quadriênio não foi suficiente para que o governo do PT abandonasse a cantilena de que a responsabilidade pelos maus resultados deve ser buscada em fatores externos, e não internos. A comparação internacional simplesmente não corrobora o diversionismo do discurso oficial. Entre 58 países que divulgaram os resultados de seus PIBs de 2014 até agora, apenas seis se saíram pior que o Brasil. Na média, o crescimento mundial no ano passado deverá ter sido de 3,3%, segundo o FMI. Na média do período, o país também se saiu mal sob Dilma.
Crescimento anual do PIB brasileiro (em %)
Fonte: IBGE/Contas Nacionais
Futuro nada animador
Mesmo entre economias com características similares à brasileira, o desempenho de Dilma e do governo do PT nos últimos anos foi sofrível. Entre 2011 e 2014, todos os países da América do Sul, todos os da América Latina e a maior parte das nações do mundo cresceram mais que nós. A média anual sul-americana foi de 2,7% e a latino-americana, 2,8%.
Até países como Argentina e Venezuela, com economia desestruturada ou em franco processo de desestabilização, saíram-se melhor que o Brasil. Numa lista de 169 nações cujos dados são compilados pela OCDE, a economia nacional aparece apenas na 120ª colocação no ranking que cobre o período desde 2011.
Por quaisquer ângulos que se observe, os resultados produzidos por Dilma até agora foram muito ruins. Infelizmente, contudo, as perspectivas futuras não indicam dias melhores. Pelo contrário: neste ano, já se dá como certo que a economia brasileira irá encolher. Do FMI aos analistas de mercado brasileiros ouvidos semanalmente pelo Banco Central, o prognóstico é de queda de pelo menos 1% até dezembro. Nem o governo ousa discordar das previsões negativas, que, se confirmadas, serão o pior resultado econômico do país em 20 anos.
Neste ano, o Brasil deverá ser um dos pouquíssimos países em todo o mundo a registrar recessão. Segundo o FMI, apenas Venezuela, Argentina, Rússia e Guiné Equatorial também devem apresentar retração. Em 2016, não se espera que nada muito diferente aconteça, com expansão projetada de apenas 1% para a economia brasileira (ou seja, o terceiro resultado per capita negativo consecutivo), ou somente metade da média de crescimento prevista para a América Latina.
Mistura tóxica
A economia brasileira não está presa apenas na armadilha do baixo crescimento. Também reúne neste momento características que se revelam uma mistura ainda mais tóxica, a começar pela inflação. No patamar atual, situado entre 8% e 9% ao ano, os índices de preços no país são o segundo mais alto entre as 26 nações do mundo que adotam regime de metas para controlar a inflação. A taxa de juros reais é a mais elevada em todo o globo.
O coquetel indigesto se completa com os ascendentes índices de desemprego entre os brasileiros, já se igualando ou, em alguns casos, superando a média registrada em economias que enfrentaram crises bravas desde a debacle global de 2009. Sem falar no completo desarranjo em que foram postas as contas públicas do país ao longo do primeiro mandato da presidente Dilma - e que ora está sendo mitigado à base de um tão truculento quanto rudimentar arrocho fiscal.
De tudo isso, a constatação que fica é que o governo do PT simplesmente desperdiçou os últimos quatro anos em termos de crescimento econômico e desenvolvimento social. E ainda corre risco de comprometer outros quatro anos, a depender do desempenho de Dilma Rousseff e sua equipe econômica. É tempo demais perdido por uma nação que simplesmente não tem nenhum tempo mais a perder.
INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA - www.itv.org.br
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