No noite desta terça-feira a Câmara dos Deputados apresentou à Nação uma falsa ópera à qual se deu o título de reforma política. Na verdade, nem reforma eleitoral chega a ser. Muito menos uma ópera. Ópera é um gênero artístico teatral que consiste em um dramaencenado acompanhada de música, ou seja, composição dramática em que se combinam música instrumental e canto, com presença ou não de diálogo falado. A Câmara dos Deputados tem um coro de baixíssima qualidade musical, onde o tom é sempre o da ironia contra a sociedade.
O sistema de votação, amarrado em opções esdrúxulas favorecem à eleição e à reeleição entre os postulantes. Ao final de toda a encenação nada mudou. Agora se discutirá à suposta exaustão a questão das coligações nas votações proporcionais. Nelas, vota-se no candidato a vereador, deputado estadual ou federal de um partido, mas a legenda da coligação elege um terceiro ou quarto caído de paraquedas. Ou, em alguns casos, como o do Tiririca, que é um fenômeno satírico isolado de votos de protestos, puxa com seus 1 milhão de votos outros deputados que tiveram meia dúzia de votos. Enquanto isso, bem votados ficam de fora.
Os deputados falam, falam, mas querem deixar como está porque facilita diretamente a sua vida. Quando não puderem se beneficiar, através dos seus partidos e coligações, constroem os arranjos de amanhã.
A proposta será discutida no Senado, outro cartório de interesses muito mais cruel onde em vez de 513 deputados, apenas 81 senadores costuram os interesses num cartório que a História futura julgará impiedosamente.
Na verdade, a reforma política é uma cortina de fumaça que está sendo usado por um Congresso Nacional fraco, pra emparedar um governo fraquíssimo e tirar todas as vantagens possíveis. No fundo, todos negociam os seus interesses em nome da sociedade.
Nesse caso, não há por onde a sociedade esperar nenhum tipo de reforma. Nem partidária, política, eleitoral, previdenciária, trabalhista, tributária e administrativa. Enquanto isso, cinco mil prefeitos vão a Brasília discutir a composição do pacto federativo costurado na Constituição federal de 1988, que onera a ponta municipal e centraliza poder em excesso no governo federal. O Brasil é um cartório atrasado com base no poder fincado em Brasília e exaure a economia dos cidadãos que moram nos municípios.
Enquanto isso, discute-se a próxima eleição usando o nome pomposo de reforma política, uma simples costura de compadres em rodada de piadas obcenas. O assunto continua amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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