"ARTIGO : Pra onde vamos? – 3"

A história política dos últimos 60 anos, contada ontem neste espaço, acabou se corrompendo na estrutura e na transformação dos partidos políticos em cartórios que arranjam a vida política do país segundo conspirações de poder. Os partidos representam diferentes ideologias e convicções políticas existentes na sociedade, reunindo, como seus filiados, cidadãos adeptos à sua corrente de pensamento. Como o Brasil adota desde a Constituição de 1988 o sistema de pluripartidarismo, era de se supor que os 34 partidos políticos existentes fossem os pilares da democracia. Da prostituição partidária nasceu a epidemia de corrupção no país, como se descreve a seguir.
            Na medida em que o sistema de coligações matou esse ideal, as regulamentações posteriores criaram arranjos que separam candidatos e partidos. Os eleitos são burocraticamente filiados a um partido, mas não devem satisfações a ninguém sobre seu desempenho a não ser a si próprios. Mas para se eleger é gasto muito dinheiro. Da campanha de Fernando Collor de Mello, em 1990, quando apareceu o marketing nas eleições, os custos ficaram muito altos, e os candidatos deixaram de ser gente para se transformar em produtos. Uma vez eleitos no sistema de coligação, uma frente de eleitos precisa se compor com o partido que venceu a eleição majoritária de prefeito, de governador ou de presidente da República.
            Compor significa partilhar a gestão em duas correntes: ocupação de posições e cargos. Posições são ministérios, por exemplo ou secretarias. Cargos significa ocupar posições-chaves na gestão com pessoas de confiança dos partidos ou dos seus dirigentes, para trabalhar em favor do partido. Isso requer por de lado funcionários públicos de carreira. Os nomeados trabalham empenhados na causa do seu partido e dos seus dirigentes, como demonstrou o escândalo da operação Lava-Jato na Petrobras.
            A transformação da estrutura administrativa do Estado em cartório de negócios políticos ou de negócios financeiros pelos partidos políticos, trouxe junto a corrupção, na medida em que a gestão não pertence mais ao Estado e nem à sociedade. Os partidos políticos mataram lentamente a gestão pública brasileira em todos os níveis e instituíram a corrupção como norma de governar. Na sequência, os serviços públicos entraram em decadência crescente, e o sistema administrativo público entrou em processo de exaustão. Mas a corrupção cresce a cada nova gestão. O assunto continuará. 
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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