Resolvi prestar uma homenagem a Cuiabá pelos 296 anos usando como referência o espetáculo musical e teatral “Cuiabá dos meus amores”, encenado no Teatro Zulmira Canavarros. Carmem e eu assistimos no domingo, gentilmente convidados pela amiga Carlina Jacob, a produtora. O espetáculo, escrito pelo seu pai, José Rabello Leite, de cuja serena amizade pude desfrutar, foi de fato uma longa viagem no tempo de Cuiabá.
Produção primorosa associou teatro, música, tecnologia tendo como pano de fundo a História e as estórias de nossa cidade. Não anotei nome de todos os grupos culturais que se apresentaram na peça. Destaco um, pedindo desculpas aos demais, e desejando que este represente todos: o Flor Ribeirinha, criação da querida figura do São Gonçalo Rio Abaixo, a sorridente Dominguinhas. Do mesmo modo, não posso deixar de registrar o humor de Nico e Lau, Almerinda, assim como do irreverente Totó Bodega. Nem a performance das duas filhas de Carlina: uma na apresentação e outra nos figurinos.
O rio, o peixe, o legendário Bar do Bugre. Detenho-me no rasqueado bem dançado, nas músicas bem escolhidas. Na irreverência bem lembrada de Liu Arruda, bem interpretada no humor ferino de André de Lucca, com sua comadre Ramona.
Muita gente envolvida na criação, produção, apresentação, nos bastidores tecnológicos e em todas as áreas. Gostei muito de ver em nossa cidade um espetáculo desse nível. O teatro ajudou. Muito bom.
Porém, de tudo, marcou-me a retomada do espírito cuiabano. Quem vivenciou aquela Cuiabá de antes e dos anos 1970, sabe que a cidade era um espetáculo à parte. Simples e simplória, mas dona de uma alma muito humana. A moldura era a alegria e uma permanente irreverência desde o linguajar que a sociedade inteira usava. Já não peguei mais o Bar do Bugre, mas convivi com Gabriel, Pedrinho e Olinto Neves, filhos de velho Bugre do bar. Convivi com Rubens de Mendonça e até com Zé Bolo Flor. Respirei o ar dos quintais emangueirados e acajuzados com as pitombas penduradas aos milhares nos galhos compridos, e as bocaiuveiras perfumadas.
Ri e emocionei no domingo. Plateia lotada e todos saindo com a mesma emoção de recordação. Ou de pena por não terem conhecido, aqueles que vieram depois. Mas espero que no ano que vem Carlina invente outra graça pra nós nos lembrarmos da velha Cuiabá, hoje tão jovem, que abriga novos e novatos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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