HISTÓRIA NA POLÔNIA: 1970: Willy Brandt de joelhos em Varsóvia

Em 7 de dezembro de 1970, o chanceler federal alemão, Willy Brandt, cai de joelhos diante do Memorial aos Heróis do Gueto de Varsóvia. Um gesto que ajudaria a normalizar as relações entre a Alemanha Ocidental e Polônia. Ao se ajoelhar diante do Memorial aos Heróis do Gueto de Varsóvia, em 7 de dezembro de 1970, o então chanceler federal alemão, Willy Brandt (1913-1992), protagonizou um gesto que entraria para a história como um símbolo da busca alemã pela reconciliação no pós-Guerra.
"Sempre me perguntaram o que eu queria com esse gesto, se ele havia sido planejado. Não, ele não foi", escreveu Brandt anos mais tarde em suas memórias.
Os nazistas haviam encurralado meio milhão de judeus no Gueto de Varsóvia. Até que em abril de 1943 aconteceu o levante, reprimido violentamente pelas tropas de Hitler. Poucos sobreviventes restaram para contar a história.
O cair de joelhos do chefe de governo Willy Brandt (o primeiro chanceler social-democrata do pós-Guerra) e o silêncio que se seguiu – interrompido apenas pela chuva de flashs fotográficos – repercutiram no mundo como um símbolo de arrependimento, pedido de perdão e tentativa de reconciliação da Alemanha.
Dentro do país, entretanto, Brandt foi até xingado. Grande parte da população considerou a atitude exagerada. Os conservadores dos partidos CDU e CSU chegaram a xingá-lo de traidor e entreguista, de estar entrando no jogo dos soviéticos, que pretendiam açambarcar também o lado ocidental da Alemanha. Brandt, por seu lado, justificou que seu gesto foi completamente espontâneo, levado pela consternação de não poder expressar em palavras o que sentia no momento.
Para muitos, a derrocada da Cortina de Ferro começou com o sindicato Solidariedade na Polônia e a queda do Muro de Berlim, em 1989. O primeiro embaixador polonês na Alemanha reunificada, Janusz Reiter, porém, considera que a partir de 1989 começou uma nova era política, semeada em 1970 com a reconciliação teuto-polonesa.
Acordo de normalização de relações
Vinte e cinco anos depois do final da 2ª Guerra, a viagem de Brandt à Polônia de regime comunista foi um tema extremamente controverso na Alemanha. O objetivo era a assinatura do tratado de normalização das relações entre os dois países, que seria seguido de um acordo no mesmo sentido entre a Alemanha e a União Soviética.
Um dos aspectos importantes do Acordo de Varsóvia consistia no reconhecimento pelo governo de Bonn da fronteira ao longo da linha formada pelos rios Oder e Neisse. Um duro golpe para milhões de alemães desterrados que moravam do outro lado dessa fronteira antes da guerra.
A coragem e espontaneidade de Willy Brandt naquele 7 de dezembro de 1970 foram apenas um dos motivos que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz do ano seguinte. Um caso de espionagem em seu gabinete causou sua renúncia, em 1974.
Na opinião do diretor de teatro John Dew, que dirigiu uma montagem da peça A Queda de Joelhos em Varsóvia, Brandt tornou-se figura-guia na história do pós-Guerra, por ter expressado o desespero, a tristeza e a sensação de impotência das pessoas naquela época. "Brandt teve visão, e essa visão ajudou a superar a Guerra Fria", diz Dew.
Volker Wagener/Caminho Político
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