PELOS FUNDOS: Governo Lula e irmãos Batista tiveram reuniões no Planalto não registradas oficialmente
Os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores do grupo J&F e conselheiros da JBS, visitaram o Palácio do Planalto ao menos cinco vezes entre 2023 e 2024, antes de se encontrarem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio deste ano. A informação foi publicada no sábado 14 pela Folha de S.Paulo, que obteve os registros de entrada dos irmãos Batista no Planalto por meio da Lei da Acesso à Informação.Em quatro dessas visitas, os empresários tiveram reuniões que não foram registradas nas agendas oficiais. A Presidência e ministérios ainda não informaram quem recebeu Joesley sozinho em uma dessas ocasiões.
Transferência de controle da distribuidora de energia do Amazonas
As visitas dos empresários a membros do governo Lula ocorreram entre 2023 e 2024. Nesse período, os Batistas obtiveram ao menos uma vantagem do governo, que foi a Medida Provisória, editada em junho, que autorizou um socorro de R$ 450 milhões à Amazonas Energia — que serão pagos pelos consumidores na conta de luz. A Ambar, dos irmãos Batista, quer comprar a Amazonas Energia.
Em julho, o Estadão noticiou que executivos da Âmbar tiveram 17 encontros no Ministério de Minas e Energia antes de a MP ser assinada por Lula.
A transferência está sendo avaliada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que tem uma vaga de diretor em aberto, a ser indicado por Lula e chancelado pelo Senado.
A Âmbar também foi a primeira empresa habilitada pelo governo a importar energia elétrica da Venezuela para reforçar o abastecimento de Roraima.
Os irmãos Batista foram personagens centrais do escândalo político de 2017 que ameaçou o mandato de Michel Temer (MDB), depois da divulgação de uma conversa gravada por Joesley com o então presidente.
Os empresários também admitiram diversos casos de corrupção nos governos petistas, mas, agora negam e tentam anular a multa de R$ 10,3 bilhões assumida em acordo de leniência com o Ministério Público Federal. O ministro Dias Toffoli, do STF, já suspendeu a multa.
Encontros não registrados nas agendas oficiais
Com base nos registros das reuniões obtidos pela Lei de Acesso à Informação, a Folha questionou as assessorias da Secretaria de Comunicação Social (Secom), da Vice-Presidência e de ministérios que atuam no Planalto sobre encontros com os empresários nas datas registradas.
A Secom informou que o conselheiro de Lula para assuntos internacionais e assessor da Presidência, Celso Amorim, teve dois encontros com os empresários. Esses eventos só foram incluídos na agenda oficial depois dos questionamentos do jornal.
O secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Marcus Cavalcanti, também teve duas reuniões no Planalto com os controladores da J&F, mas esses encontros ainda não estavam na agenda até 13 de setembro.
Segundo a Casa Civil, os “representantes do grupo empresarial” fizeram uma “apresentação da carteira de investimentos do grupo no Brasil e exterior” durante as reuniões com o secretário do PPI. No entanto, o ministério não especificou quais negócios foram apresentados ou se as reuniões tiveram desdobramentos.
Encontros com Marcus Cavalcanti
No primeiro encontro com Cavalcanti, em 4 de outubro de 2023, os registros de entrada do Planalto mostram a presença de Joesley e Wesley. Na segunda reunião, em 9 de janeiro de 2024, apenas Joesley foi registrado. A Casa Civil mencionou que a falta de registro na agenda pode ser resultado de uma “falha de comunicação”, pois a equipe do PPI não trabalha no Planalto, enquanto o secretário “eventualmente” tem agendas na sede do Executivo.
A agenda de 4 de outubro de Cavalcanti, que omite a reunião com os irmãos Batista, registra outras cinco atividades, sendo uma delas realizada no Planalto. Já na data do encontro com Joesley, não há nada marcado no mesmo site, conforme os dados do e-Agendas, que é o sistema eletrônico de agendas do Poder Executivo.
Nova visita de Joesley Batista
Os registros de entrada também mostram uma nova visita de Joesley Batista ao Planalto em 8 de novembro. A Presidência e os ministérios que operam no Planalto afirmaram que autoridades da cúpula do governo não tiveram agendas com o empresário nessa data e não explicaram o motivo de sua visita.
Os encontros com Celso Amorim ocorreram em 1º e 23 de fevereiro de 2024, mencionando apenas a presença de Joesley, apesar dos registros de entrada apontarem que Wesley também esteve no prédio na segunda data.
Procurada, a Secom não esclareceu se ele participou da reunião. As reuniões com os empresários só foram incluídas na agenda de Amorim em 4 de setembro, um dia depois de a Folha questionar as entradas deles no Planalto.
Os encontros tiveram como assuntos “visita de cortesia e temas de interesse da instituição”, conforme os dados oficiais.
Reunião com o presidente Lula
Os irmãos Batista retornaram ao Planalto em 27 de maio para uma reunião com Lula, com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, e outros representantes do setor, como Marcos Molina, da BRF/Marfrig. Segundo o Planalto, o encontro tratou da iniciativa de doações de proteína animal para complementar cestas básicas para o Rio Grande do Sul.
Nesta visita, os irmãos Batista entraram pela portaria principal, mas não houve registro no sistema do Planalto. O vídeo da entrada dos empresários mostra que eles não passaram pelo setor de credenciamento de visitantes. Joesley e Wesley Batista já haviam aparecido ao lado de Lula em ao menos duas ocasiões durante a atual gestão do petista, mas fora da sede do Executivo.
A viagem à China dos irmãos Batista com Lula
Em abril, o presidente participou de um evento com os empresários durante uma visita a uma indústria de processamento de carne da JBS. Em março de 2023, os irmãos integraram a comitiva de Lula em uma viagem à China. Depois de se afastarem do conselho de administração da JBS em 2017, pressionados pelo mercado em meio a investigações da Operação Lava Jato, os irmãos Batista voltaram a atuar publicamente.
Assessoria/Caminho Político
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