"A Cultura vai mobilizar ações pelo clima"

À frente do Ministério da Cultura, reaberto pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva depois de ter seu fim declarado no mandato de Jair Bolsonaro, Margareth Menezes participa em Dubai de uma aliança inédita. Pela primeira vez na história das Conferências do Clima da ONU, ministros da pasta entram em cena como possíveis aliados contra as mudanças climáticas.
Ao lado do Xeique Salem bin Khalid Al Qassimi, ministro da Cultura e Juventude dos Emirados Árabes Unidos, Menezes participa da primeira reunião de Alto Nível do Diálogo Ministerial sobre Ação Climática baseada na Cultura. Ela é copresidente do Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura (GFCBCA, na sigla em inglês), lançado na COP28.
Nascida e criada em Salvador (BA), Menezes diz em entrevista à DW que o contato entre homem e natureza era um tema comum em muitas das músicas que cantou.
"Tanto que eu fui à Eco 92, no Rio de Janeiro. Eu não participava de um grupo em si, fui como cidadã para presenciar aquela discussão", conta, sobre o evento que plantou a semente para as Conferências do Clima.
A meta do grupo, segundo a ministra, é mobilizar o setor cultural para promover ações que levem a sociedade a refletir sobre as mudanças climáticas e a mudar de comportamento para proteger os recursos naturais.
Para Menezes, o Brasil, como sede da COP30, em 2025, e atual presidente do G20, tem grande potencial para atrair investimentos no setor cultural e na bioeconomia
DW: Como o Brasil pretende incorporar o tema da emergência climática dentro da cultura?
Margareth Menezes: Este momento de desequilíbrio climático que a humanidade atravessa é muito crítico. As mudanças do clima já impactam diretamente a vida dos brasileiros.
Eu tenho uma sensibilidade para isso porque, mesmo antes de ocupar o Ministério da Cultura, eu abordei esses temas na minha vida, a natureza foi sempre um dos temas que eu gostei de cantar. Além da questão afro da sociedade, eu sempre me sensibilizei para assuntos ligados à natureza. Tanto que eu fui à Eco 92, no Rio de Janeiro. Eu não participava de um grupo em si, fui como cidadã para presenciar aquela discussão.
E naquela conferência se falou muito sobre a necessidade de fazer mudança no uso dos recursos naturais. E hoje estamos colhendo o fruto de não termos feito o suficiente para combater o desequilíbrio climático ao longo desses anos.
Recebi um convite do príncipe Salem bin Khalid Al Qassimi, que cuida da parte de Cultura e Juventude nos Emirados Árabes. Tivemos um primeiro encontro no G20, na China, e ele fez então esse convite com essa ideia de a gente criar um apelo dentro da COP28 para que a cultura seja vista como um elemento importante para tratar essas questões climáticas.
Temos dentro do escopo da cultura esta relação do homem com a natureza. E as ferramentas da cultura podem fazer uma mobilização maior dentro da sociedade, em todos os países, sobre a urgência da mudança do uso dos recursos naturais.
O objetivo dessa iniciativa na COP28 é gerar impulso político, reconhecendo a necessidade desta união, de usar a cultura em busca de uma resposta efetiva.
Este impulso vai se estender para além da COP? Acordos neste sentido devem nascer aqui em Dubai?
A nossa reunião no espaço da Conferência do Clima é justamente para elaborarmos as ações. Nós vamos nos debruçar sobre o assunto, vamos pensar isso também dentro do G20.
A partir de agora, o mundo vai precisar agir mais contra as mudanças climáticas, e a gente só faz isso por meio de uma ação universal. Então, o grupo foi criado com ministros da Cultura para pensar em como usar as ferramentas que temos, até para auxiliarmos na mitigação dos efeitos das mudanças do clima. Vamos criar um grupo de trabalho a partir de agora.E quais devem ser as propostas do Brasil, conhecido tanto por sua grande diversidade natural quanto cultural?
O presidente Lula tem defendido muito este pioneirismo do Brasil na área ambiental. Nós temos também, nas nossas culturas de origem afro-indígenas, um legado de memória da relação com a natureza muito grande. São os povos indígenas os grandes defensores das florestas. Assim como os povos com religião de matriz africana, os quilombolas, a juventude brasileira.
Aliás, a juventude mundial está tocando esta pauta de forma muito enfática. Precisamos preservar o planeta para esta e as próximas gerações. Nós pensamos que o Brasil pode ser um grande mobilizador.
Como a pasta da Cultura entra nesta mobilização?
Pelo Ministério da Cultura, nós queremos fazer ações trazendo a sociedade para este debate por meio de editais, de projetos, chamar esta força do povo brasileiro para este momento.
Ao mesmo tempo em que estamos atravessando este momento de crise climática delicado, temos a oportunidade grandiosa para o Brasil sair na liderança. Teremos a presidência do G20, a COP30 em Belém, teremos muita visibilidade internacional.
Internamente, podemos fazer muito para potencializar as ações, mobilizar o povo, e promover contrapartidas positivas. É importante também o apoio da sociedade.
Como estão as condições para fazer este trabalho no ministério, já que ele ficou fechado por quatro anos, durante o governo Bolsonaro, e retomou as atividades há menos de um ano?
Foi realmente um primeiro ano de muito empenho para reformatar o ministério. Mas conseguimos fazer todas as principais entregas, que foi a implantação da lei emergencial Paulo Gustavo, a Política Nacional de Cultura, que são leis que farão uma transformação muito grande e efetiva no setor cultural.
Também estamos lançando muitos editais, retomamos todas as discussões de políticas de cultura, das ferramentas que precisamos para retornar ao fazer cultural.
O ministério desta vez vem com um orçamento mais adequado. E nós já estamos sentindo o ministério em contato direto com a sociedade civil e em diálogo com a iniciativa privada.
Estamos fomentando a cultura nacional, tirando um pouco do eixo Rio-São Paulo, levando incentivo a outros estados, mas sem deixar de fomentar a indústria que já existe.
O Brasil é muito grande, existem sete milhões de pessoas que vivem da economia criativa, da cultura e da arte. Na nossa visão, não podemos perder esta força - que é também econômica. Não temos mais nada a provar quanto à potência da cultura brasileira. Mas temos, sim, que fomentar esse vetor econômico.
Assessoria/Caminho político
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