Após tomada militar do enclave separatista armênio pelo Azerbaijão, quase toda a população já deixou o território disputado. Conflito entre armênios e azeris remonta a séculos. Em 28 de setembro, o presidente da autodeclarada república de Nagorno-Karabakh, Samvel Shahramanyan, anunciou que ela deixaria de existir em 1º de janeiro de 2024. De acordo com um decreto assinado por ele, todas as instituições estatais terão sido dissolvidas até essa data. O anúncio veio após a tomada militar de Nagorno-Karabakh pelo Azerbaijão e a subsequente fuga de quase toda a população armênia étnica – uma reviravolta dramática no longo conflito sobre a região, que gira em torno da independência do território disputado.
O Azerbaijão, que é predominantemente muçulmano, é apoiado pela Turquia, enquanto a Rússia tem agido como uma potência protetora da Armênia, que é majoritariamente cristã.
Consequências geopolíticas
A autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, que declarou independência em 1991, tem uma população predominantemente armênia, mas está localizada em território azeri. De acordo com a lei internacional, o enclave pertence ao Azerbaijão, não à Armênia.
A Armênia nunca reconheceu a república separatista. Embora alguns considerem a região como uma "parte inseparável" da Armênia, os projetos de lei para reconhecer a independência de Nagorno-Karabakh foram bloqueados no Parlamento armênio e pelo governo.
O conflito tem relevância geopolítica muito além dos dois Estados devido a vários oleodutos e gasodutos importantes na região, que transportam milhões de barris por dia do Mar Cáspio para a costa mediterrânea da Turquia.
Desde a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, o Azerbaijão vem fornecendo mais gás para a União Europeia (UE).
Séculos de disputa
O conflito entre armênios e azeris tem suas origens no século 7, quando os bizantinos cristãos lutaram pelo controle de Nagorno-Karabakh contra os árabes muçulmanos. Mais tarde, sob o domínio otomano, a população armênia buscou proteção na Rússia.
Quando os armênios cristãos sofreram pressão da Pérsia no século 18, a czarina russa Catarina 2ª emitiu cartas de proteção a eles.
Depois que Nagorno-Karabakh ficou sob controle russo como resultado da Guerra Russo-Persa de 1804 a 1813, a população armênia cristã recebeu tratamento preferencial em relação aos muçulmanos turcos da região mais ampla, mais tarde conhecidos como azeris.
Genocídio armênio
O genocídio armênio de 1915-1916 no Império Otomano levou muitos armênios a fugirem para Nagorno-Karabakh, o que acabou exacerbando o conflito com a população azeri. Em março de 1918, houve pogroms contra os azeris e, em seguida, pogroms antiarmênios na capital do Azerbaijão, Baku. Em 1920, os pogroms na cidade de Shusha, em Nagorno-Karabakh, mataram mais de 30.000 armênios.
Após a queda do Império Russo, a Revolução Russa e a Primeira Guerra Mundial, a região continuou a ser disputada entre a Armênia e o Azerbaijão, enquanto ambos os países desfrutavam de um breve período de independência.
Em 1922, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia formaram a República Soviética Federativa Socialista Transcaucasiana, que foi dissolvida em 1936 e desintegrada em repúblicas soviéticas individuais. No entanto, os tumultos e pogroms entre armênios e azeris não cessaram.
Colapso da União Soviética
Após o colapso da União Soviética em 1991, a Armênia e o Azerbaijão declararam sua independência. A região de Nagorno-Karabakh fez o mesmo em 3 de setembro de 1991. Dois meses depois, o Azerbaijão retirou sua autonomia e lançou um bloqueio de energia.
O conflito se escalou novamente e, no início de 1992, houve mais assassinatos em massa em vilarejos azeris e armênios. Em 12 de maio de 1994, entrou em vigor um acordo de cessar-fogo que fortaleceu Nagorno-Karabakh.
Estima-se que cerca de 35.000 pessoas tenham morrido na década de 1990 e mais de 1,1 milhão tenham sido deslocadas.
Uma segunda guerra em Nagorno-Karabakh eclodiu em 2020, levando a região a sofrer grandes perdas territoriais, apesar do apoio da Armênia. O conflito chegou ao fim devido a um acordo de cessar-fogo mediado por Moscou que ajudou o Azerbaijão a recuperar partes do território disputado.
Do ponto de vista armênio, o Azerbaijão em nenhum momento garantiu autonomia a Nagorno-Karabakh. O Azerbaijão, por outro lado, declarou repetidamente que reconhecia uma "ampla autonomia" para o enclave, mas não a independência.
Astrid Prange/Caminho político
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