Nos ataques de 7 de outubro a Israel, organização palestina teria empregado táticas conhecidas da invasão da Ucrânia pela Rússia. Terroristas teriam também deixado armas russas para trás nos locais dos atentados.Há bastante tempo os drones de combate contam entre as práticas de guerra moderna. Isso se tem confirmado em diversos conflitos armados dos últimos anos – na Síria ou em Nagorno-Karabakh, por exemplo. Na guerra da Rússia contra a Ucrânia, pela primeira vez empregam-se drones comerciais adaptados – até então considerados impróprios ao uso bélico – em ofensivas direcionadas e de ampla superfície.
Segundo especialistas, essa foi também a tática que os terroristas do grupo radical islâmico Hamas adotaram nos ataques de 7 de outubro contra localidades israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza. No caso, tratou-se de quadricópteros comerciais produzidos sobretudo pelas firmas chinesas DJI e Autel.
Classificado como terrorista pelos Estados Unidos, Alemanha, União Europeia e alguns Estados árabes, o Hamas, no início da invasão, causou sérios danos estratégicos às forças de defesa de Israel. Vídeos divulgados pelo grupo mostrariam drones lançando explosivos sobre as torres de vigilância ao longo de toda a cerca fronteiriça de Gaza. Desse modo, deixaram "cegos" esses postos equipados com câmeras e sensores ultramodernos, e até então considerados em Israel como inexpugnáveis.
Uso "inesperado e complexo"
Para entender melhor o que se passou no Oriente Médio, vale examinar os combates na Ucrânia. Praticamente desde o início da invasão, em 24 de fevereiro do 2022, a Rússia tem empregado amplamente drones comerciais equipados com explosivos, e atualmente as forças ucranianas também os utilizam. Além disso, desde então, técnicos amadores conseguiram adaptar esses veículos não tripulados para mobilização no front.
Enquanto na Ucrânia os alvos são soldados e veículos blindados, em Israel os terroristas palestinos visaram infraestruturas militares. "A maneira como o Hamas mobilizou seus drones é nova, nunca foi observada antes", comentou Carlo Masala, da Universidade da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), em Munique, à revista Der Spiegel. Sua teoria é que o grupo teria estudado bem detalhadamente a guerra na Ucrânia.
Vídeos divulgados pelo Hamas também mostram drones lançando granadas sobre uma guarnição de tanques de combate israelenses, atingindo até mesmo um Merkava-4, de 63 toneladas, possivelmente o tanque mais pesado do mundo, com valor calculado em 3,5 milhões de dólares.
Liran Antebi, encarregada de programas de alta tecnologia e segurança nacional do Institute for National Security Studies (INSS) de Tel Aviv, analisa há mais de dez anos a mobilização bélica da tecnologia de drones, especialmente no contexto da guerra russa contra a Ucrânia.
No entanto, até ela se disse "surpresa pelo uso inesperado e complexo dos drones do Hamas": "Isso prova que, mesmo sendo tecnologicamente bem primitivos, numa mobilização complexa [os drones comerciais adaptados] podem ser muito mais letais do que até então se queria admitir", enfatiza a cientista.
Primeiro emprego: "Estado Islâmico" contra EUA
O Hamas confirmou ter usado 35 drones nos atentados terroristas de 7 de outubro. No entanto, não se trataria de exemplares comerciais, mas sim do modelo Zouari, de fabricação própria, que deve seu nome ao chefe do programa de drones do grupo, o engenheiro tunisiano Mohamed Zouari, cuja morte em 2016 o Hamas atribui ao serviço secreto israelense Mossad.
Não é novidade que os terroristas palestinos possuam drones. Mas, ao que tudo indica, antes da mortal ofensiva-surpresa de 7 de outubro, eles melhoraram e ampliaram seu arsenal, também com modelos comerciais.
Drones "são baratos, fáceis de obter no mercado e podem ser lançados num prazo de poucos segundos numa rota precisa e praticamente sem conhecimentos prévios. Porém o volume e extensão do ataque com drones no Oriente Médio não se compara ao na Ucrânia", afirmou ao jornal econômico israelense Globes o especialista em drones Yair Ansbacher.
Antebi recorda ter sido a organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) a primeira a lançar drones adaptados para fins ofensivos, contra as forças dos Estados Unidos no Oriente Médio, onde antes empregava dispositivos extremamente primitivos. "Depois vimos isso na Ucrânia, e agora também aqui."
Alta tecnologia pode servir ao terrorismo
Para diversos observadores, todo o programa armamentista do Hamas só é possível com apoio financeiro e assistência estrangeiros. Segundo o Country Reports on Terrorism 2020, do Departamento de Estado americano, o Irã transfere anualmente 100 milhões de dólares a grupos radicais palestinos. O próprio Hamas nunca desmentiu essa estimativa, apenas afirmou tratar-se de somas mais modestas.
Consultados pelo jornal The Washington Post, atuais e antigos funcionários de serviços secretos do Ocidente e do Oriente Médio confirmaram que os aliados iranianos fornecem treinamento militar e apoio logístico e financeiro ao Hamas. Essas informações não puderam ser verificadas, mas alguns observadores supõem que os russos estejam envolvidos no treinamento de combatentes do Hamas.
"Eles todos – o Jihad Islâmico, o Hamas e outros – são preparados na Síria. Está claro que os russos estão envolvidos, na qualidade de treinadores [militares] de experiência extraordinária ", afirma Lhor Semywolos, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio de Kiev.
Até agora não foi possível provar que Moscou dá apoio direto ao Hamas. Entretanto o jornalista israelense Nadav Eyal noticiou que os guerrilheiros radicais islâmicos teriam deixado armas russas para trás nos locais dos atentados terroristas.
O jornal Haaretz, de Israel, afirma que o Irã teria armado até os dentes a tropa de assalto Nukhba, do Hamas, com armas russas, desde fuzis Kalashnikov até mísseis antiaéreos Strela. "Vimos os efeitos diretos e indiretos da ligação entre Rússia, Irã e o Hamas nas ruas e casas, nas antes idílicas clareiras das cidades e municípios nas fronteiras da Faixa de Gaza, que se transformaram em ruínas", escreve o colunista Yossi Melman.
Não há comentário oficial da parte de Israel sobre essas informações. O Exército se prepara para uma ofensiva de solo na Faixa de Gaza: segundo o ex-oficial do serviço britânico Frank Ledwidge, com experiência em zonas de conflito, deverá ser uma guerra altamente tecnológica "com forte emprego de drones, túneis, fogo de artilharia e ofensivas aéreas"
A especialista em segurança Liran Antebi aconselha que, desde já, se atente às tecnologias de inteligência artificial disponibilizadas para o grande público: no futuro próximo, grupos terroristas de todo o mundo poderão começar a utilizarem-nas de forma ativa para fins maléficos.
Dmytro Kaniewski/Caminho político
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