Mato Grosso é líder de queimadas na Amazônia no primeiro semestre de 2023

Mato Grosso respondeu por mais da metade dos focos de calor registrados na Amazônia no primeiro semestre de 2023. Ao todo, o estado contabilizou 4.569 focos, o equivalente a 55% do total. Os dados foram divulgados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em todo o bioma, foram 8.344 focos de calor, um número 10,7% maior do que o mesmo período do ano anterior e o maior número desde 2019. Junho foi o mês com mais queimadas até o momento, 3.075 focos, 36% do total.  
Como agravante, junho de 2023 também foi o mês mais quente da história, conforme o observatório europeu Copernicus. A alta temperatura é decorrente das mudanças climáticas e do fenômeno El Niño.
Para o coordenador do programa de Inteligência Territorial do ICV, Vinicius Silgueiro, o contexto preocupa, uma vez que o auge do período de seca ainda não começou.
“Em um cenário de alterações climáticas, com o encurtamento do período chuvoso e intensificação do período seco, a intensidade e a capacidade do fogo de se alastrar é maior, podendo resultar em um número maior de focos de calor detectados”, disse.
A maior parte dos focos de calor, 40%, ocorreu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Outros 42% foram registrados em áreas recentemente desmatadas ou de vegetação primária.
Feliz Natal, a 512 km de Cuiabá, foi o município com mais focos de calor no estado. Atrás de Mato Grosso ficam os estados do Pará, com 1.482 focos, e Roraima, com 1.261, o que representa 18% e 15% dos focos em todo o bioma, respectivamente.
Vinícius pontuou que o cenário indica um contexto de queima para o uso agropecuário dessas áreas.
“O poder econômico e o contexto de custo de oportunidade da terra exercem a pressão para a expansão da área agropecuária mediante o desmatamento, em que o fogo geralmente é usado em associação para limpeza e preparo das áreas”, disse.
Desmatamento cai
O total de áreas com alerta de desmatamento, por outro lado, caiu 33,6% na Amazônia no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Os dados também são do Inpe.
Mato Grosso foi o estado campeão do desmatamento nos 6 primeiros meses do ano, sendo responsável por 34% dos alertas. O município mais desmatado foi Feliz Natal, região de agropecuária extensiva e de grandes propriedades.
Para Vinícius, os dados demonstram que as medidas de fiscalização e responsabilização, tanto pelo desmatamento quanto pelo uso do fogo de forma ilegal, não têm sido suficientes para reverter o cenário de perda de vegetação.
“É notável que os investimentos com essa finalidade tenham aumentado nos últimos anos, bem como a quantidade de áreas embargadas e autuadas, mas a continuidade do desmatamento e do uso ilegal do fogo mostra que existem caminhos que dão a aparência de que continua compensando aos proprietários ou ocupantes de terras incorrerem nessas práticas”.
Assessoria/Caminho político
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