Isolamento na pandemia prejudicou diagnóstico de câncer de mama, dizem especialistas

Em debate promovido por três comissões da Câmara, o tempo de espera para exames e consultas foi considerado o maior empecilho para o diagnóstico precoce. A discussão sobre o tratamento do câncer de mama feita por três comissões da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (28), Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, mostrou que os avanços para a detecção precoce da doença passam principalmente pela diminuição do tempo para cumprir a chamada “linha de cuidado”. A audiência pública foi promovida pelas Comissões de Seguridade Social e Família; dos Direitos da Pessoa Idosa; e dos Direitos da Mulher.
Segundo os especialistas, o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 prejudicou a notificação dos casos de câncer de mama. Médica da ONG Oncoguia, Luciana Holtz relatou queda de 50% no número de mamografias de rastreamento entre 2019 e 2020; e 39% de diminuição na quantidade de biópsias. Para os convidados do debate, o tempo é o maior inimigo do tratamento.
Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia, Max Manno afirmou que é preciso diminuir o que ele chamou de “jornada”, que se segue a partir da identificação de alguma anormalidade em uma mamografia.
“Depois disso, a paciente tem que marcar uma consulta com um mastologista. Aí ela vai à consulta, às vezes demora um pouco a marcação da consulta. Aí o mastologista vai pedir exames complementares, ultrassom, uma ressonância, vai pedir a biópsia. Aí o paciente vai marcar a biópsia. Depois tem o resultado do anatomopatológico, dependendo do local isso pode demorar até um mês ou dois. Aí o paciente volta ao médico, aí pede os exames do estadiamento da doença, aí o paciente é referido para um centro terciário, isso também leva um tempo”, enumerou.
Os debatedores lembraram da importância da lei aprovada pelo Congresso que limita em 30 dias o tempo de espera por um diagnóstico de câncer de mama e em 60 dias o período para iniciar o tratamento após o diagnóstico (Lei 1.3896/19).
A deputada Flavia Morais (PDT-GO), uma das autoras de requerimentos para a realização do debate, lamentou que ainda haja demora em algumas etapas do tratamento. “O Sistema Único de Saúde (SUS) é um avanço, mas o grande problema, o grande desafio é realmente superar esse tempo de espera que, para muitos procedimentos, ainda é muito grande”, disse.
Segundo os participantes da audiência, a demora faz com que muitas mulheres cheguem ao serviço de saúde com o câncer já em estágio avançado. Também foi salientada a diferença entre os sistemas público e privado em termos de acesso e opções de tratamento.
Integrante do Instituto Vencer o Câncer, o oncologista Manoel Souza deu o exemplo da quimioterapia oral, indicada em muitos casos, mas que não está disponível para todas as mulheres. “As pacientes demoram para fazer o diagnóstico, para chegar ao oncologista, para fazer radioterapia e, além disso, quando chegam para fazer o tratamento, elas ainda não têm as melhores opções para o seu tratamento”, relatou.
Diretora do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Maíra Batista ressaltou que, em dezembro de 2020, uma portaria liberou recursos para o reajuste da tabela de procedimentos. Outras estratégias para a detecção de câncer de mama e de colo de útero neste período de pandemia, segundo ela, foram a reorganização da rede de atenção e oficinas de qualificação dos gestores para reprogramar a assistência no SUS, baseada nos parâmetros estabelecidos pelo Instituto Nacional do Câncer.
Reportagem - Cláudio Ferreira
Edição - Geórgia Moraes
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