Ministro da Saúde pediu que nações que tenham doses extras as enviem ao Brasil. Segundo Queiroga, ação é necessária para conter a fase crítica da pandemia e "evitar a proliferação de novas linhagens e variantes do vírus". O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez um apelo internacional nesta sexta-feira (30/04) para que governos que tenham doses extras de vacinas liberem os imunizantes para acelerar a campanha de vacinação no Brasil.
A declaração foi feita durante conferência de imprensa com a participação da cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Reiteramos nosso apelo àqueles que possuem doses extras de vacinas para que possam compartilhá-las com o Brasil o quanto antes possível, de modo a nos permitir lograr avanços em nossa ampla campanha de vacinação, para conter a fase crítica da pandemia e evitar a proliferação de novas linhagens e variantes do vírus", disse o ministro.
Apesar do apelo, Queiroga garantiu que toda a população brasileira estará totalmente imunizada contra a covid-19 até o final do ano.
"Já temos doses suficientes para os próximos meses e é possível garantir que até o final de 2021 teremos toda a população totalmente vacinada", afirmou, ao ser questionado por jornalistas sobre o ritmo lento da vacinação no país devido à escassez de vacinas.
Até quinta-feira, o Brasil havia aplicado a primeira dose de imunizantes contra a covid-19 em 13,5% da população, e 6,2% receberam as duas, segundo dados da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.
Queiroga ainda afirmou ser iminente que o governo fechará um novo contrato para adquirir mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer-BioNTech. Em março, o país fechou um primeiro acordo com as empresas para receber 100 milhões de doses – o primeiro lote, com um milhão de doses, chegou ao Brasil nesta quinta-feira.
Ampliação da vacinação esbarra na falta de vacinas
Ao fazer um balanço das ações do governo brasileiro durante a pandemia, Queiroga ressaltou que o Brasil tem capacidade para vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia, mas que a ampliação da vacinação tem esbarrado na falta de vacinas.
O ministro disse ainda que, desde que assumiu a gestão da saúde, buscou orientar a população brasileira "de forma clara" sobre medidas de prevenção cientificamente comprovadas, como uso de máscara, lavagem de mãos e distanciamento social.
Queiroga também lamentou algumas informações recebidas pela população que acabam questionando a eficácia ou segurança de certas vacinas, o que desestimula algumas pessoas a se imunizarem.
No entanto, as falas de Queiroga contrastam com as atitudes do presidente Jair Bolsonaro, que frequentemente é visto provocando aglomerações, visitando o comércio e interagindo com pessoas sem máscara. Além disso, diversas vezes, o presidente questionou as vacinas e, até agora, não recebeu nenhuma dose do imunizante contra a covid-19, diferentemente de outros líderes mundiais, que fizeram questão de se imunizar, inclusive diante das câmeras, para incentivar a população.
Na terça-feira, sem saber que estava sendo gravado, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que tomou "escondido" a vacina contra a covid-19 e que tenta convencer Bolsonaro a se vacinar.
Em outubro, Bolsonaro desautorizou publicamente a aquisição da Coronavac, vacina produzida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. Em novembro, o presidente chegou a comemorar a suspensão dos testes clínicos da Coronavac no Brasil "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu, referindo-se a seu desafeto João Doria, governador de São Paulo.
Antes, em junho, o governo federal recusou a oferta de 70 milhões de doses da Pfizer, que seriam entregues até dezembro. No final do ano passado, Bolsonaro chegou a reclamar publicamente da farmacêutica ao afirmar que não havia garantia de que a vacina não transformaria quem a tomasse em "um jacaré".
Queiroga ainda aproveitou a coletiva da OMS para falar sobre a vacinação da população indígena no país. Ele ressaltou que, considerando a vulnerabilidade desses povos a doenças respiratórias, eles foram priorizados no programa de imunização. "Já foram distribuídas doses suficientes para todos os indígenas com mais de 18 anos em territórios indígenas", disse.
Brasil ainda preocupa OMS
Queiroga não citou a marca de mais de 400 mil mortos por covid-19, ultrapassada nesta quinta-feira e mencionada na coletiva pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Durante o evento, Ghebreyesus afirmou que a atenção do mundo todo está voltada para a escalada da covid-19 na Índia, mas que outros países estão vivendo transmissão intensa, como o Brasil, um dos mais afetados pela pandemia.
Ghebreyesus ressaltou que, desde novembro, o país tem crise aguda, incluindo casos, hospitalizações e mortes entre jovens. "Os casos agora diminuíram por quatro semanas seguidas, entre hospitalizações e mortes. São boas notícias, esperamos que continuem. Mas a pandemia nos ensinou que nenhum país pode baixar a guarda", afirmou.
Segundo Ghebreyesus, a pandemia ameaça os ganhos dos últimos 30 anos na saúde pública do país.
"O Brasil tem uma longa e orgulhosa história da saúde pública, com três décadas de investimento no fortalecimento da saúde primária e progresso em relação à cobertura universal de saúde. Mas pandemia atingiu o sistema de saúde do Brasil em cheio, e arriscamos perder essas conquistas", destacou.
O gerente de Incidentes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Sylvain Aldighieri, evitou fazer críticas ao Brasil ao responder em nome da OMS e destacou que a região das Américas notificou nos últimos 15 meses 62 milhões de casos e mais de 1,5 milhões de óbitos - quase metade das mortes em todo o mundo.
Mariângela Simão, diretora geral assistente da OMS, disse que a organização vê com extrema tristeza a letalidade do vírus no Brasil e que é "extremamente importante reduzir a pressão nos sistemas de saúde".
"É com imensa tristeza que a gente vê este número de mortes no Brasil, e também em outros países e, infelizmente, constatamos que algumas destas mortes, provavelmente muitas delas, poderiam ser evitadas", afirmou.
le (efe, lusa, Agência Brasil, ots)cp
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