Minsk diz que paramilitares russos planejavam ataques terroristas antes de eleições no país. Oposição acusa presidente Lukashenko de fabricar ameaça para mobilizar apoio entre eleitores. A prisão de 33 supostos mercenários russos em Belarus, acusados de estarem no país para promover ataques terroristas, gera um novo capítulo na inédita crise entre Minsk e Moscou.
Os tradicionais aliados já estavam envolvidos em uma disputa envolvendo contratos para o fornecimento de recursos energéticos para o regime do presidente Alexander Lukashenko, considerado no Ocidente como "o último ditador da Europa", que concorre à reeleição após mais de 25 anos no poder. Nesta sexta-feira (31/07), autoridades de segurança de Belarus anunciaram a prisão do grupo de supostos mercenários, acusados de planejar ataques terroristas no país durante a campanha eleitoral. A Rússia rejeitou categoricamente as acusações.
Membros da oposição e observadores independentes em Belarus afirmam se tratar de uma encenação promovida pela campanha de Lukashenko, que concorre a um sexto mandato nas eleições no dia 9 de agosto.
O Comitê Bielorrusso de Segurança de Estado, ainda conhecido pelo acrônimo KGB da era soviética, afirmou que foram presos na última quarta-feira 32 membros da empresa paramilitar russa Wagner em uma hospedaria nos arredores de Minsk. Outra pessoa do grupo teria sido detida no sul do país.
O secretário do Conselho de Segurança de Belarus, Andrei Ravkov, informou que os russos foram formalmente acusados de planejar ataques terroristas e disse que as autoridades ainda procuram outros 200 militantes que estariam no país.
O caso gerou um agravamento sem precedentes nas relações entre os dois países vizinhos. Em Moscou, o Kremlin negou as acusações e pediu que o governo em Minsk explique suas ações e respeite os diretos dos russos sob custódia. As autoridades russas confirmaram que os homens são funcionários da empresa privada de segurança, mas disse que estariam em Belarus após perderem a conexão de seu voo para Istambul no aeroporto de Minsk.
"Não há informações sobre nenhuma violação cometida pelos russos que possa justificar a detenção", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Ele disse que as suspeitas de que russos estariam envolvidos em uma tentativa de desestabilizar o país vizinho seriam "meras insinuações".Entretanto, o chefe do grupo de investigadores que avalia o caso, Alexander Agafonov, assegurou que o grupo não tinha planos de seguir viagem até a Turquia e afirmou que obteve "relatos contraditórios" sobre o motivo de sua estada em Belarus. Ele disse que passagens para Istambul teriam sido compradas apenas para servir como álibis.
As autoridades bielorrussas avaliam se o blogueiro oposicionista Sergei Tikhanovsky, marido da candidata de oposição à presidência Svetlana Tikhanovskaya, poderia ter ligação com o grupo. Foi aberta uma investigação criminal em razão da suspeita de que ele estaria por trás de protestos realizados contra o governo. Ele está detido desde o mês de maio, acusado de agredir um policial. Sua esposa rejeitou as novas acusações contra seu marido, que classificou de "ilegais".
Acirramento das tensões entre Minsk e Moscou
Após ser convocado para prestar esclarecimentos no Ministério bielorrusso do Exterior, o embaixador russo Dmitry Mezentsev afirmou que as acusações contra os paramilitares são infundadas. Ele corroborou a versão de que os russos faziam uma escala em suas viagens e se abrigaram na hospedaria próxima a Minsk após perderem a conexão de seu voo. O embaixador exigiu a apresentação das provas contra os acusados.
A empresa de segurança russa Wagner já teria enviado centenas de mercenários para atuar em conflitos no leste da Ucrânia, na Síria e na Líbia. Segundo observadores, o Belarus é utilizado como um local de trânsito para diversas operações russas no exterior.
Em plena campanha eleitoral, Lukashenko vem enfrentando uma onda de protestos após governar o país com mão de ferro por mais de duas décadas. A insatisfação aumentou com a crise econômica, agravada pela pandemia de covid-19. Analistas afirmam que a prisão dos supostos terroristas russos seria uma tentativa do presidente de mobilizar os eleitores a seu favor.
Em 26 anos no poder, Lukashenko se beneficiou do baixo custo da energia fornecida pela Rússia e dos empréstimos financeiros de Moscou que ajudaram a evitar um colapso econômico. Um acordo entre Minsk e Moscou fortalece os laços políticos, militares e econômicos entre os dois países.
Recentemente, porém, o governo russo decidiu cortar alguns subsídios, afirmando que Belarus deve aceitar uma integração ainda maior com o Kremlin para que possa receber os recursos energéticos a preços reduzidos. Lukashenko criticou a decisão de Moscou e acusou o Kremlin de minar a independência do país, conquistada após o fim do regime soviético.
RC/rtr/ap/afp/cp
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