Em 1.461 dias será dado o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2022, um torneio repleto de ineditismos e polêmicas. Isolado por países vizinhos, Catar sediará o Mundial mais caro da história.Enquanto o Brasil vibra com a reta final do Campeonato Brasileiro e vislumbra a chegada das festividades de fim de ano, os preparativos para o maior torneio de futebol do mundo estão a todo vapor na península desértica do Catar. Em exatamente quatro anos será dado, em Doha, a capital, o pontapé inicial para aquela que é chamada na Europa de a "Copa do Mundo no Inverno" – o primeiro Mundial a ser disputado no fim do ano, quando a estação fria reina no Hemisfério Norte.
Até o início do Mundial, o Catar ainda tem tempo de sobra para terminar os trabalhos nos estádios e construir uma infraestrutura adequada para receber centenas de milhares de torcedores. Desafio bem maior será montar uma seleção competitiva.
A Copa dos caminhos curtos
A partida de abertura da 22ª edição da Copa do Mundo da Fifa será disputada em 21 de novembro de 2022 no Estádio Iconic Lusail, a 23 quilômetros ao norte de Doha. A arena, cuja inauguração está projetada para o primeiro semestre de 2019, terá capacidade para 86.250 espectadores.
De acordo com estimativas otimistas, 1,5 milhão de torcedores de todo o mundo são esperados no Catar para a Copa do Mundo – um aumento populacional momentâneo significativo para a península de apenas 11.600 quilômetros quadrados no Golfo Pérsico e onde moram aproximadamente 2,7 milhões de pessoas.
Esse afluxo de visitantes ficará concentrado especialmente em Doha – afinal de contas, das oito arenas para o torneio, quatro estão na capital do Catar, e as outras quatro, em cidades periféricas.
Todos os estádios estarão conectados a um sistema ferroviário metropolitano, cujo núcleo faz parte do metrô de Doha. A estimativas é de que 60% dos visitantes viajem nesses trens para os estádios: a maior distância – entre o Estádio Al Bayt, ao norte de Doha, e o Estádio Al Wakrah, ao sul – é de 55 quilômetros em linha área.
Os custos para erguer os estádios ou reformar as arenas já existentes estão estimados entre 2,87 bilhões e 4 bilhões de dólares. O investimento total para sediar a Copa do Mundo ainda é muito especulativo, com estimativas que variam de 50 bilhões a até 220 bilhões de dólares – o Catar se dispôs a construir uma cidade inteira do zero para a Copa, justamente Lusail. Para efeito de comparação: o Mundial de 2014 custou aproximadamente R$ 40 bilhões.
Acusações de corrupção e conflito no Golfo
Persistente é a acusação de corrupção na escolha dupla dos países organizadores das Copas de 2018 e 2022, em dezembro de 2008. Na época, houve questionamentos sobre os motivos de atribuição de um Mundial a um país como o Catar, que não tem tradição no futebol e apresenta condições climáticas desafiadoras para a prática do esporte – e mesmo para simplesmente assistir aos jogos.
Também surgiram – e não param de surgir – críticas das organizações de direitos humanos sobre condições de trabalho e hospedagem degradantes dos numerosos trabalhadores estrangeiros nos canteiros de obras da Copa do Mundo.
A tudo isso soma-se a situação politicamente explosiva na região do Golfo Pérsico. Desde 2017, o Catar é alvo de um bloqueio por seus vizinhos Arábia Saudita, Egito, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, que acusam o Catar de apoiar o terrorismo na região.
Recentemente, o chefe do comitê de organização da Copa do Mundo no Catar, Hassan al-Thawadi, anunciou de forma surpreendente que algumas seleções poderiam ser alojadas, durante o torneio, no Irã, um dos Estados-chave no conflito no Oriente Médio.
Afinal, 32 ou 48 seleções?
A Copa do Mundo de 2022 deverá ser a última com 32 seleções participantes. O Mundial seguinte, organizado em conjunto por Estados Unidos, Canadá e México, será o primeiro com 48 equipes. Mas o presidente da Fifa, Gianni Infantino, deixou repetidamente claro que gostaria de ver uma Copa do Mundo com 48 seleções já em 2022.
"Nossos preparativos estão em andamento para 32 seleções, e todos os planejamentos são baseados nisso", disse Thawadi, que, no entanto, confirmou que o aumento de participantes será debatido. Como único organizador do torneio de 2022, o Catar provavelmente ficaria sobrecarregado com um torneio com 48 seleções participantes.
Vitória contra Suíça, empate com Islândia
No atual ranking mundial da Fifa, divulgado em 25 de outubro, a seleção do Catar ocupa a 96ª colocação, logo atrás das Ilhas Faroé e à frente de Índia e Estônia.
No entanto, a seleção do Catar alcançou recentemente uma pequena façanha: contra a Suíça, que atuou com vários reservas, ainda que com alguns nomes de qualidade, como Granit Xhaka, Dennis Zakaria e Fabian Schär, o próximo anfitrião da Copa venceu por 1 a 0. Em tom de galhofa, a imprensa suíça chamou a derrota de "catástrofe".
Em seguida, a seleção do Catar conseguiu um empate em 2 a 2 contra a Islândia, outro participante do Mundial de 2018. Os bons resultados nesses amistosos estão alimentando a esperança dos catarianos de que sua seleção consiga alcançar um nível razoável de competitividade nos próximos anos.
Primeira Copa em território árabe
A Copa do Mundo no emirado do Catar será marcada de fatos inéditos em diversos aspectos. Pela primeira vez a Copa será disputada num país muçulmano e em solo árabe. Além disso, o Mundial jamais foi disputado no final do ano, portanto, no meio da temporada europeia. Desta vez não será o Brasileirão a ser interrompido para a disputa da Copa, mas todas as grandes ligas europeias.
Os responsáveis pelo calendário das competições europeias terão um desafio pela frente. A temporada anterior ao ano da Copa provavelmente terminará mais cedo, enquanto a pausa nas competições em novembro e dezembro de 2022 levará a férias mais curtas no verão europeu de 2023.
Os torcedores europeus que ficarem em casa também terão de se adaptar drasticamente – em vez de protetor solar e cerveja gelada, as exibições dos jogos em telões e bares deverão ser acompanhadas sob aquecedores e regadas a vinho. Ao menos os vendedores de quentão nos mercados natalinos alemães podem se preparar para um belo lucro daqui a quatro anos.
Andreas Sten-Ziemons, Philip Verminnen/Caminho Político
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