Passagens baratas de empresas como Ryanair atraem milhares de turistas, mas prejudicam tanto o meio ambiente quanto a sociedade. A loucura das viagens aéreas de baixo custo precisa acabar, opina Lars Halter. O terminal está lotado, longas filas se formam diante do balcão, corpos suados tentam não escorregar em bancos de plástico grudentos, crianças gritam constantemente. Ao anoitecer, porém, os passageiros são orientados a ir para casa. É mais um dia de greve, e é claro que isso significa que uma palavra irritante vai aparecer no painel de informações: cancelado. Comissários de bordo e pessoal de terra parecem estar sempre em greve, especialmente os contratados por companhias aéreas de baixo custo. Agora, no entanto, foi a vez de pilotos que trabalham para a Ryanair – a barateira máxima dos céus.
O diretor da empresa, Michael O'Leary, se refere desdenhosamente aos pilotos como "motoristas de ônibus", e é assim que lhes pagaria, se pudesse. O'Leary é um cara nada agradável. Mas ele será o culpado por todo o caos? Acho que não. A Ryanair serve um nicho que o mercado criou, no qual ainda há alguns bons euros a serem faturados.
Milhões de turistas anseiam pelas pechinchas da Ryanair. Por 15 euros, é possível voar para Veneza; por 20 euros, para Tessalônica. Um voo para Fuerteventura não deveria custar mais que um coquetel na beira da praia, e turistas com destino a Marraquexe possuem calções de banho mais caros que a viagem para o Norte da África.
Nem é preciso dizer que as companhias têm que manter os custos baixos para conseguir sustentar esses preços, não apenas com os salários dos empregados. Os pilotos da Ryanair voam muitas rotas e têm as pausas mais curtas permitidas por reguladores da aviação. Eles arcam com os custos do próprio treinamento e têm que voar até mesmo quando estão doentes, pois a empresa não paga por esses dias. Os comissários de bordo têm que bancar seu uniforme e trazer a própria comida para o trabalho.
A loucura das viagens aéreas de baixo custo precisa acabar. No passado, voar era algo exclusivo dos abastados. Não precisamos voltar àqueles tempos desiguais, afinal, todos têm o direito a férias – mesmo que seja difícil justificar um voo de 12 horas para as Maldivas. Mas precisamos acabar com essa dinâmica louca que permite as tarifas áreas serem tão baixas que não cobrem nem mesmo seus custos.
Esses voos baratos são oferecidos em detrimento de salários dignos e criam uma espiral negativa. Salários mais baixos aumentam a demanda por mais mercadorias e serviços baratos. Isso, por sua vez, beneficia empresas que pagam ainda menos, e, no final, só há perdedores, lutando com um salário mínimo.
Além disso, passagens mais caras reduziriam a demanda por voos de férias. Isso é bom para destinos totalmente lotados por turistas com baixo orçamento – e também para o clima. Muitos voam pela Europa quatro vezes por ano para comer um churrasco entre milhares de outros corpos oleosos numa praia que, graças a incontáveis jaquetas corta-vento de supermercado, não diferem em nada de qualquer outra orla do Mar do Norte ou Báltico. Isso é desnecessário e irresponsável.
Lars Halter/Caminho Político
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