Entretanto, as dívidas foram contraídas com o aval do Governo, mesmo que sem debate no Parlamento, numa clara violação da lei. A pergunta que a DW África colocou ao economista Alfredo Mondlane é se faz sentido este posicionamento do representante de um Estado responsável?
"Faz sentido, sim, em querermos pedir responsabilidade. Contudo é questionável dizer o que é partilhar responsabilidades com os bancos. Penso que nesta perspetiva os bancos têm responsabilidade no sentido de ajudar o Governo a encontrar a melhor solução, não têm responsabilidade de isentar o Governo do serviço da dívida, temos de distinguir isso", responde o economista.Responsabilidade do Estado vs responsabilidade de agentes do Governo
Roberto Tibana é outro economista moçambicano que não tem dúvidas que do lado dos credores houve uma responsabilidade nos empréstimos duvidosos. Mas ele ressalva que o facto não anula a responsabilização do lado moçambicano e faz questão de diferenciar alguns aspetos.
Filipe Nyusi questionou a falta de sensibilidade dos credores, o desrespeito pelas regras e ainda o facto dos credores não terem tomado em conta que Moçambique é um país pobre, numa clara assunção de que estaria incapacitado para assumir uma tal dívida.
O povo é o "Ás" de Filipe Nyusi
O Presidente de Moçambique garante que as dívidas são assumidas pelo Estado moçambicano, mas que estão a ser negociadas, e defendeu o levantamento da suspensão da ajuda ao país pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial. E Filipe Nyusi, de forma apelativa, usou o nome do povo, alertando que se não houver partilha de responsabilidades a população será sacrificada.
Mas o economista Alfredo Mondlane considera que essa foi uma cartada apelativa mal jogada por Nyusi:
"Penso que o Presidente da República pode estar a ter uma abordagem menos feliz. Parece-me que houve um desvio da aplicação, o que tornou os projetos inviáveis. E aí não é possível responsabilizar os bancos e falar-se de partilha de responsabilidades se houve falta de transparência."
E a responsabilidade de Nyusi?
E a falta de transparência continua a ser o "calcanhar de Aquiles" deste caso. Enquanto o Governo não esclarecer os contornos deste caso e o Ministério Público não abrir um processo que culmine com responsabilizações, o caso continuará sem desfecho.
Enquanto isso, o Governo moçambicano tem andado em "operações de charme" a nível externo para reconquistar apoio financeiro e investimento.
Mas para Tibana "uma operação de charme que não resolva, que não voe nas asas de uma solução deste problema fundamental interno de responsabilização e esclarecimento interno não vai ter sucesso."
Nádia Issufo/cp
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