Foi a primeira capital de Moçambique até 1898 quando a capital passou a ser Maputo no sul do país. Hoje, a Ilha de Moçambique é famosa pelo seu valor histórico e cultural. Nesta pequena ilha com cerca de três quilômetros de comprimento, localizada na província nortenha de Nampula, vivem perto de 15 mil pessoas.
A ilha está a ruir
Até ao momento já foram consumidos cerca de 300 metros, dentro da ilha, e mais de 500 metros na parte continental. Para proteger a ilha da erosão, o Conselho Municipal necessita de mais de três milhões de dólares.
Neste contexto, acrescenta o responsável, a Ilha de Moçambique encontra-se numa situação mais vantajosa, uma vez que possui "um gabinete de restauro e controlo”. "Há projetos concretos a acontecer que visam proteger a própria ilha. E há muitas organizações internacionais, falo da UNESCO, que olham por ela", acrescenta.
Para travar o problema e evitar um eventual desaparecimento da cidade insular por causa da erosão, o autarca local diz que já há uma solução à vista: o Projeto de Desenvolvimento dos Municípios. "Na parte insular já temos um financiamento do PRODEMO [Projeto de Desenvolvimento dos Municípios] que vai apoiar numa extensão avaliada em dois milhões e quinhentos meticais. Esta parte não é muito crítica, mas vamos fazer para prevenção. Para a parte crítica estamos ainda a precisar de dinheiro. São valores elevados, acima de 1,5 milhões de dólares", explica.A importância da preservação da arquitetura
O patrimônio arquitetônico e cultural histórico fez com que, em 1991, a Ilha de Mocambique passasse a ser considerada Patrimônio Mundial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O presidente do Conselho Municipal da Cidade da Ilha de Moçambique, Saíde Amur Gimba, assevera que não são permitidas mudanças arquitetônicas, apenas melhorias – desde que não se "apaguem as marcas" típicas. De acordo com Saíde Amur Gimba, a "Ilha de Moçambique é um patrimônio, portanto, não são permitidas alterações. Nós temos um regulamento de níveis de edifícios a considerar: edifícios de nível A, que não se alteram nem dentro e nem fora; nível B, que não se alteram por fora, mas podem ser alterados por dentro; nível C, nos quais se pode alterar por dentro por completo; e temos de nível D que se pode alterar dentro e fora”, enumera.Desrespeitos na "cidade de macuti”
A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes: a "cidade de pedra e cal" e a "cidade de macuti". A primeira acolhe os principais monumentos e edifícios melhorados. A segunda é composta por casas de construção precária, na sua maioria cobertas por macuti – as tradicionais folhas de coqueiro espalmadas.
Há cinco anos, a Ilha de Moçambique era uma das cidades da província de Nampula que mais sofria com o problema do fecalismo a céu aberto, pois muitos residentes não tinham latrinas. Esta era uma situação que afetava sobretudo o turismo, no entanto, a situação está agora melhor.
Mariamo Cebola, de 44 anos e moradora na ilha, mostra-se satisfeita com o progresso: "O município aconselha sempre todos a usarem os sanitários, mas há pessoas que vão defecar na praia. Este [existência do fecalismo] não é um problema do Governo, é nosso”, dá conta. Atualmente, as autoridades camarárias estão a tentar erradicar o problema de vez.
Moradores da ilha descontentes
O Fundo do Patrimônio de Abastecimento de Água (FIPAG) é uma das empresas que não escapa aos prejuízos originados pelos cortes diários de energia. De acordo com Amade Omar, gestor no FIPAG na ilha de Moçambique, "com o transtorno da energia, em algum momento as nossas bombas danificam-se e queimam-se através das oscilações. E também não garantem o abastecimento a 100% às populações e isso faz com que forneçamos água com restrições”.
A DW África não conseguiu ouvir os responsáveis da empresa Eletricidade de Moçambique (EDM), que se mostraram sempre indisponíveis. Mas o presidente do Conselho Municipal da Ilha de Moçambique reconhece o problema, que diz ser "preocupante".Desemprego é outro dos problemas da ilha
Outro problema que a cidade turística enfrenta é o desemprego. Armando Ruas tem 21 anos e é pescador desde os 16, altura em que quando abandonou a escola. À DW explica que a pesca é a única forma que tem de ganhar dinheiro para ajudar a família."Quando chega janeiro [até abril] morre muito peixe e a gente faz muito dinheiro. Uma pessoa pode ganhar por dia dois mil e ou cinco mil, depende do mar também”, explica o jovem.
O Governo Provincial de Nampula promete continuar a potenciar o turismo na Ilha de Moçambique com vista a gerar mais empregos.
Ainda assim... esta é uma ilha apaixonante
Apesar de todos estes problemas, o turismo não esmorece. E há mesmo quem visite a ilha e já não queira voltar à sua terra de origem. Kyra Castello, é italiana, tem 27 anos e apaixonou-se pela Ilha de Moçambique, há cerca de dois anos, quando a visitou pela primeira vez integrada num passeio turístico. Nunca mais abandonou a ilha, estando agora noiva do guia moçambicano Genito Molava. "Normalmente volto para visitar (à Itália) para visitar a família a cada seis meses, oito, por aí. De momento vamos ficar cá,” afirmou Kyra Castello.Todos os dias, visitam a ilha novos turistas. Alguns compram casas de residentes e fixam aí a sua moradia, o que também cria receios de que um dia a ilha possa voltar a ser colonizada, tal como aconteceu há 500 anos, relembra Saíde Amur Gimba.
"Orgulha-nos, mas também ficamos preocupados. O nosso receio é de que isso [a ilha] não venha a ser colonizada pela segunda vez. Sendo a ilha de Moçambique patrimônio cultural não se pode alterar as fachadas das casas e os moçambicanos não têm a capacidade de reabilitar uma ruína. O que está a acontecer é que a maioria das ruínas já estão nas mãos de estrangeiros. E o nosso maior receio é que eles entrem em massa e comecem a ditar os seus princípios”, explica o edil.
A idade da Ilha de Moçambique já começa a pesar, mas a cidade quer continuar a ser um lugar para viver e ser visitado. Governo e parceiros prometem, por isso, continuar a redobrar esforços para criar melhores condições sócio-econômicas. E a preservar o histórico patrimônio mundial da humanidade.
Autoria Sitoi Lutxeque (Nampula)
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