“Em nível nacional existe um movimento para reconhecimento da gastronomia como cultura, chamado ‘Eu como Cultura’. Aqui em Mato Grosso, o deputado Guilherme Maluf assumiu a causa, apresentando um projeto de lei com esse mesmo objetivo e nós do Univag entramos nessa campanha para aprovação da proposta”, afirmou a nutricionista e coordenadora do curso de gastronomia do Univag, Adriene Paiva.
O reconhecimento da gastronomia como cultura foi proposto com a finalidade de dar visibilidade e fortalecer os modos de vida e as práticas alimentares das populações tradicionais, os saberes, enraizados no cotidiano, e também as atividades produtivas, comerciais, culturais, educacionais e artísticas que decorrem da relação com a comida, a sociedade e o território.
Caso o projeto seja aprovado e sancionado, a culinária de Mato Grosso e tudo o que se relaciona com ela, como os hábitos alimentares regionais, os conhecimentos tradicionais e os ingredientes típicos, serão oficialmente reconhecidos como manifestação cultural, abrindo possibilidades de investimentos em projetos e pesquisas no setor.
“Hoje temos a Lei Rouanet, que financia projetos relacionados à cultura. Então, se eu quero obter recursos para financiar o lançamento de um livro ou para fazer uma exposição, por exemplo, eu consigo. Mas se eu pleitear recursos para projetos ou pesquisas na área da gastronomia, eu não consigo, porque oficialmente ela não é considerada cultura. Se esse projeto do deputado Guilherme Maluf for aprovado, facilitará a obtenção de investimentos e também de patrocínios e apoios nas esferas pública e privada”, explicou o pesquisador e professor do curso de gastronomia, João Carlos Caldeira.
João Carlos classifica a iniciativa como um marco histórico em Mato Grosso. “Até hoje nunca tivemos ninguém do poder público que realmente demonstrasse interesse no assunto. O projeto do deputado Maluf está muito bem fundamentado e deve ser conhecido e apoiado por todos”, ressaltou.
Como aspectos culturais da gastronomia são apontados no projeto os hábitos alimentares de grupos familiares, imigrantes, povos e comunidades tradicionais; os conhecimentos tradicional, popular e científico; as diversas formas de sociabilidade e de transmissão da cultura dos saberes, dos sabores, dos cheiros, da história, da memória e do afeto; a arte expressada na criação de receitas, combinação de ingredientes e apresentação dos alimentos; o compromisso com a saúde, a nutrição, o uso dos recursos naturais e as práticas agrícolas; e a valorização dos ingredientes e insumos alimentares, naturais ou processados, típicos do Estado de Mato Grosso.
O chef de cozinha, pesquisador e consultor gastronômico Fernando Mack dedica-se à realização de pesquisas e experiências com ingredientes regionais e destaca a importância da valorização dos produtos mato-grossenses. O item foi incluído no texto do projeto com base em uma propositura de sua autoria.
“O Estado de Mato Grosso é composto por três biomas e isso nos proporciona um leque de sabores muito grande. Temos diversos ingredientes diferentes que são encontrados somente aqui e possuem notas e sabores característicos da região. No entanto, muitas vezes esses ingredientes estão escondidos em algumas comunidades e tribos indígenas, por exemplo. Nesse caso, além de fortalecer a nossa cultura, a valorização dos produtos regionais também pode fomentar financeiramente uma comunidade”, destacou Mack.
O chef de cozinha afirmou estar entusiasmado com a proposta, pois, segundo ele, o reconhecimento da gastronomia como cultura já é realidade em muitos países.
“É muito importante que a classe política levante esse assunto. A sociedade tem que saber que isso está sendo discutido e todos têm que participar dos debates”, frisou.
Valorização
O deputado Guilherme Maluf destaca a riqueza da culinária local e afirma que o reconhecimento como manifestação cultural irá gerar impactos positivos não apenas na alta gastronomia, mas em diversos aspectos ligados ao cotidiano das pessoas.
“A aprovação da lei será a base para o surgimento de novas iniciativas e políticas públicas relacionadas à gastronomia regional, podendo ser aplicadas, inclusive, na merenda escolar. Isso também será importante para o desenvolvimento do estado, uma vez que a gastronomia gera empregos e possui um enorme potencial turístico”, observou.
Selo
O projeto de lei apresentado por Guilherme Maluf prevê ainda a criação do selo “Gastronomia Mato-grossense é Cultura”, destinado a iniciativas e projetos gastronômicos de promoção da cultura regional, elaborados por organizações públicas, privadas e da sociedade civil organizada, grupos de pesquisa e coletivos. A escolha dos projetos e iniciativas a serem premiados com o selo será feita por votação popular pela internet.
Assessoria da Presidência
Fotos: Maurício Barbant
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